Vandaluz
na Praça: Vane não morreu!
Dia 24 de maio, quando a Patos de Minas
completou 120 anos, a Cidade ganhou um presente. Os patenses que estavam na Praça
do Fórum também ganharam.
Um presente intangível. Um presentão
para os olhos, os ouvidos, para os sentidos e para a memória. Um presente
inesquecível: a apresentação da banda patense Vandaluz.
Esta banda fundada no ano de 2006 continua
com seu estilo irreverente e com a proposta com que foi criada: desconstruir a
mesmice. Ou melhor, desbabacar os babacas!
Para o velho e precioso dicionário Houaiss, vândalo
quer dizer, “indivíduo dos vândalos, povo germânico que, por volta do século V,
invadiu, promovendo devastação, da Hispânia e do Norte da África, onde fundou
um reino” e “ou aquele que estraga ou destrói
bens públicos, coisas belas, valiosas, históricas etc.”.
Para mim, Vandaluz também quer dizer a mesma coisa,
só que ao contrário: aquele que destrói ou estraga a idiotice, a babaquice, o
corriqueiro, o conformismo cáustico e constrói o onírico, a arte, a poesia e a
sonoridade inédita que ressoa nos corações e mentes. Enfim, se estivéssemos nos
anos 60 a banda viria para desestabilizar o establishment.
Paradoxalmente, os vândalos mais a luz, trazem isso mesmo a luz através de suas
músicas, das letras dessas músicas e das performances grotescas e às vezes
caricaturais de nós mesmos.
A poética do grupo usa e abusa de forma pontual das
tecnologias audiovisuais com imagens reais de pessoas e fatos, que de tão
insólitas parecem cenas de ficção. Mas são imagens e palavras e gestos que nos
fazem rir. Mas estamos rindo de nós mesmos. “Por que estás rindo? A história
refere-se a ti, apenas o nome está mudado.”, escreveu Horácio em Sátiras.
Na verdade, ao satirizar, ainda que
momentaneamente, os “vândaluz” nos devolvem a nossa luz ou razão perdida no
nosso cotidiano corriqueiro de pessoas modernas e perplexas.
Mas disse tudo e não disse nada. Quem viu, viu,
quem não viu ouvirá falar.
Uma banda musical são todos os seus componentes,
mas com exceção talvez dos Beatles, na maioria das bandas sempre há um ou dois
elementos centrais que se destacam. Na banda irlandesa U2, temos o Bono; na
inglesa Roling Stones, temos Mick Jagger;
na mineira Skank, temos Samuel Rosa. Só para ficar com essas três.
Na
patense Vandaluz, temos o Vane Pimentel. Talvez se Cassim Amperes ainda
estivesse na banda ficaria difícil fazer esta afirmativa. É claro que em várias
bandas dois ou três se destacam. Aqui é o Vane Pimentel.
É
obvio também que o Vane sozinho não é a Vandaluz. E o Ciro Nunes, o Lucas de Paula, o Alan Delay e o
Adriano, também não são a banda. Vandaluz é aquela mixórdia salutar e criadora.
Mas, para mim, Vane é o destaque da banda e o
(ir)responsável pelo sucesso da coisa toda. Conheci-o como poeta nas patenses
quebradas noturnas do século passado. Muita libação, muita inspiração e pouco
dinheiro.
E ver logo no início da apresentação da banda o
Vane “levar um tiro”, foi alguma coisa de espetacular! Mas Vane não morreu! A
banda não morreu. Só o Elvis...e continua vivo. E após Vane renascer no palco,
seu habitat natural, música após música, imagens após imagens. Todas
inesquecíveis. Cada letra mereciam páginas e páginas. Cada apresentação, da
mais poética à mais crítica, da mais delirante à mais nostálgica. Sonoridades
de maio trespassando o coração!
Isso é Vane Pimentel, ao vivo! O vândalo Vane não
morreu!
Depois tivemos os “velhotes” do grupo Folhas. Eles
não mandaram mal, mas também não
trouxeram nada de novo.
Um pouco depois, mirei na madrugada das ruas
vazias, a minha cidade sonolenta: uma velha e jovem senhora de 120 anos, cada
vez mais vandalizada, sobretudo por vândalos nativos, numa delirante autofagia.
Não fosse pelos “Vandaluz” e pelos sons guturais, poéticos
e melódicos de Vane Pimentel ecoando nos meus sentidos, a praça vazia estaria
ainda mais vazia e sem sentido...
José Eduardo de Oliveira
Publicado na Folha Patense, 16 de junho de 2012, p. 18
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