quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vandaluz na Praça: Vane não morreu!



Vandaluz na Praça: Vane não morreu!

Dia 24 de maio, quando a Patos de Minas completou 120 anos, a Cidade ganhou um presente. Os patenses que estavam na Praça do Fórum também ganharam.
Um presente intangível. Um presentão para os olhos, os ouvidos, para os sentidos e para a memória. Um presente inesquecível: a apresentação da banda patense Vandaluz.
Esta banda fundada no ano de 2006 continua com seu estilo irreverente e com a proposta com que foi criada: desconstruir a mesmice. Ou melhor, desbabacar os babacas!
Para o velho e precioso dicionário Houaiss, vândalo quer dizer, “indivíduo dos vândalos, povo germânico que, por volta do século V, invadiu, promovendo devastação, da Hispânia e do Norte da África, onde fundou um reino” e  “ou aquele que estraga ou destrói bens públicos, coisas belas, valiosas, históricas etc.”.
Para mim, Vandaluz também quer dizer a mesma coisa, só que ao contrário: aquele que destrói ou estraga a idiotice, a babaquice, o corriqueiro, o conformismo cáustico e constrói o onírico, a arte, a poesia e a sonoridade inédita que ressoa nos corações e mentes. Enfim, se estivéssemos nos anos 60 a banda viria para desestabilizar o establishment. Paradoxalmente, os vândalos mais a luz, trazem isso mesmo a luz através de suas músicas, das letras dessas músicas e das performances grotescas e às vezes caricaturais de nós mesmos.
A poética do grupo usa e abusa de forma pontual das tecnologias audiovisuais com imagens reais de pessoas e fatos, que de tão insólitas parecem cenas de ficção. Mas são imagens e palavras e gestos que nos fazem rir. Mas estamos rindo de nós mesmos. “Por que estás rindo? A história refere-se a ti, apenas o nome está mudado.”, escreveu Horácio em Sátiras.
Na verdade, ao satirizar, ainda que momentaneamente, os “vândaluz” nos devolvem a nossa luz ou razão perdida no nosso cotidiano corriqueiro de pessoas modernas e perplexas.
Mas disse tudo e não disse nada. Quem viu, viu, quem não viu ouvirá falar.
Uma banda musical são todos os seus componentes, mas com exceção talvez dos Beatles, na maioria das bandas sempre há um ou dois elementos centrais que se destacam. Na banda irlandesa U2, temos o Bono; na inglesa Roling Stones, temos Mick Jagger; na mineira Skank, temos Samuel Rosa. Só para ficar com essas três.
Na patense Vandaluz, temos o Vane Pimentel. Talvez se Cassim Amperes ainda estivesse na banda ficaria difícil fazer esta afirmativa. É claro que em várias bandas dois ou três se destacam. Aqui é o Vane Pimentel.
É obvio também que o Vane sozinho não é a Vandaluz. E o Ciro Nunes, o Lucas de Paula, o Alan Delay e o Adriano, também não são a banda. Vandaluz é aquela mixórdia salutar e criadora.
Mas, para mim, Vane é o destaque da banda e o (ir)responsável pelo sucesso da coisa toda. Conheci-o como poeta nas patenses quebradas noturnas do século passado. Muita libação, muita inspiração e pouco dinheiro.
E ver logo no início da apresentação da banda o Vane “levar um tiro”, foi alguma coisa de espetacular! Mas Vane não morreu! A banda não morreu. Só o Elvis...e continua vivo. E após Vane renascer no palco, seu habitat natural, música após música, imagens após imagens. Todas inesquecíveis. Cada letra mereciam páginas e páginas. Cada apresentação, da mais poética à mais crítica, da mais delirante à mais nostálgica. Sonoridades de maio trespassando o coração!
Isso é Vane Pimentel, ao vivo! O vândalo Vane não morreu!
Depois tivemos os “velhotes” do grupo Folhas. Eles não mandaram mal, mas também  não trouxeram nada de novo.
Um pouco depois, mirei na madrugada das ruas vazias, a minha cidade sonolenta: uma velha e jovem senhora de 120 anos, cada vez mais vandalizada, sobretudo por vândalos nativos, numa delirante autofagia.
Não fosse pelos “Vandaluz” e pelos sons guturais, poéticos e melódicos de Vane Pimentel ecoando nos meus sentidos, a praça vazia estaria ainda mais vazia e sem sentido...

José Eduardo de Oliveira
Publicado na  Folha Patense, 16 de junho de 2012, p. 18

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