quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Caro Tonhão



Caro Tonhão,

             Veja só, depois de dez anos, olha só o que consegui escrever depois de uma semana em Mariana:

“Estou só, novamente. Mas estou pensando. No velho Xodó. Praça da Catedral a velha “ebúrnea” do Alphonsus. E estou quase igual a ele nos seus estados etílicos.
Daqui, a Catedral do órgão pode ser vista com o seu frontão nem tanto ebúrneo, mas lúgubre. Mariana é fria e triste. No entanto é menos frio e mais alegre que Villa Rica.
Gostaria de estar agora lá. Mas os “miasmas pestilenciais” e etílicos, seguramente me aprisionariam naquele antro por um período além do que aos das minhas possibilidades e necessidades hoje.
Tenho e sinto saudades de Mariana e Caio. A Ná: A Ná?
Considero que esta viagem a Mariana e a este X Encontro da ANPUH, será muito importante para mim. Revi amigos
 ( poucos - mas sempre tive poucos amigos, apesar de amar a todos,  a meu modo). Revi coisas e memórias. REVI-ME!
- E os meus sonhos, anseios e projetos inconclusos, mas estão vivos! Muito vivos. Por que estou vivo.
Mariana cresceu nestes últimos 10 anos, o que era de se esperar, mas se o cidadão, ficasse sentado nesta mesma praça desta Leal Cidade: pouco notaria.
Amo a pouca mutabilidade destas cidades ( O . P. e Mariana). Minha filha, Mariana, foi uma homenagem óbvia.
 Mas os problemas sociais, como disse o Professor Lázaro, de uma cidade: turística, histórica, mineradora, real e universitária são inúmeros. Há geração de marginalizados e excluídos.
Clube marianense mais vazio que eu.
Julho/1996/ Mariana.”

Ou fiquei dez anos mais idiota, ou realmente não tinha nada para escrever e pensar. Ou não dei conta. De qualquer forma escrevi.  E cai na noite enxundiosa da Velha Ribeirão do Carmo. E ouvia: “Ó doente, ribeirão do Carmo...”.
E o pior é que voltei  em novembro do mesmo ano: Minas Gerais: 300 anos. Desta vez, não escrevi nada, mas fiz minha inscrição em alguma coisa, talvez, num sorriso de uma mulher solitária ...ao amanhecer...
O ICHS e aqueles anos inquietos (e loucos) ainda estão à espera de seu cronista. Nós vivemos alí, exatamente fim do período militar. Fui em 1982 e voltei em 1986. Se o Brasil continuou o mesmo. Eu mudei. Eu forjei o meu presente e o meu futuro. Dentro das velhas “circunstâncias” do velho Karl. Só que depois, esqueci tudo isso.  Mas em algum lugar da minha memória existe a gestação de outros amanhãs.  Mais fecundos, seguramente.



Te mando também, uma reprodução “scanneada”, em preto e branco (não consegui faze-lo a cores), esta aquarela, para mim, bem superior ao quarto de Van Gogh (Quarto do artista em Arles - 1889) (desculpe a comparação).  Nas costas da moldura, num momento de lembranças escrevi:

“Este quarto de dormir e estudar representava para ele nos últimos dias do mísero ano de 1986 a um último refúgio.
Ainda que se assemelhasse mais com o inferno do que qualquer outra coisa.
Ele já havia perdido a mulher (mulher não tem dono) depois perderia de fato seu velho pai.
Mas não se desesperou.
Pintou  o inferno na sua aparente tranqüilidade e foi-se embora rumo à noite” 
 -  1988.

Amigo,

Vou ficando por aqui, um forte abraço.
Patos de Minas, 03/11/99

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