Caro Tonhão,
Veja só, depois de dez anos, olha
só o que consegui escrever depois de uma semana em Mariana:
“Estou só, novamente. Mas estou
pensando. No velho Xodó. Praça da
Catedral a velha “ebúrnea” do Alphonsus. E estou quase igual a ele nos seus
estados etílicos.
Daqui, a Catedral do órgão pode
ser vista com o seu frontão nem tanto ebúrneo, mas lúgubre. Mariana é fria e
triste. No entanto é menos frio e mais alegre que Villa Rica.
Gostaria de estar agora lá. Mas
os “miasmas pestilenciais” e etílicos, seguramente me aprisionariam naquele
antro por um período além do que aos das minhas possibilidades e necessidades
hoje.
Tenho e sinto saudades de Mariana
e Caio. A Ná: A Ná?
Considero que esta viagem a
Mariana e a este X Encontro da ANPUH, será muito importante para
mim. Revi amigos
( poucos - mas sempre tive poucos amigos,
apesar de amar a todos, a meu modo).
Revi coisas e memórias. REVI-ME!
- E os meus sonhos, anseios e
projetos inconclusos, mas estão vivos! Muito vivos. Por que estou vivo.
Mariana cresceu nestes últimos 10
anos, o que era de se esperar, mas se o cidadão, ficasse sentado nesta mesma
praça desta Leal Cidade: pouco notaria.
Amo a pouca mutabilidade destas
cidades ( O . P. e Mariana). Minha filha, Mariana, foi uma homenagem óbvia.
Mas os problemas sociais, como disse o
Professor Lázaro, de uma cidade: turística, histórica, mineradora, real
e universitária são inúmeros. Há geração de marginalizados e excluídos.
Clube marianense mais vazio que
eu.
Julho/1996/ Mariana.”
Ou fiquei dez
anos mais idiota, ou realmente não tinha nada para escrever e pensar. Ou não
dei conta. De qualquer forma escrevi. E
cai na noite enxundiosa da Velha Ribeirão do Carmo. E ouvia: “Ó doente,
ribeirão do Carmo...”.
E o pior é que
voltei em novembro do mesmo ano: Minas Gerais: 300 anos. Desta vez, não
escrevi nada, mas fiz minha inscrição em alguma coisa, talvez, num sorriso de
uma mulher solitária ...ao amanhecer...
O ICHS e
aqueles anos inquietos (e loucos) ainda estão à espera de seu cronista. Nós
vivemos alí, exatamente fim do período militar. Fui em 1982 e voltei em 1986.
Se o Brasil continuou o mesmo. Eu mudei. Eu forjei o meu presente e o meu
futuro. Dentro das velhas “circunstâncias” do velho Karl. Só que depois,
esqueci tudo isso. Mas em algum lugar da
minha memória existe a gestação de outros amanhãs. Mais fecundos, seguramente.
Te mando
também, uma reprodução “scanneada”, em preto e branco (não consegui faze-lo a
cores), esta aquarela, para mim, bem superior ao quarto de Van Gogh (Quarto do artista em Arles - 1889)
(desculpe a comparação). Nas costas da
moldura, num momento de lembranças escrevi:
“Este quarto
de dormir e estudar representava para ele nos últimos dias do mísero ano de
1986 a um último refúgio.
Ainda que se
assemelhasse mais com o inferno do que qualquer outra coisa.
Ele já havia
perdido a mulher (mulher não tem dono) depois perderia de fato seu velho pai.
Mas não se
desesperou.
Pintou o inferno na sua aparente tranqüilidade e
foi-se embora rumo à noite”
- 1988.
Amigo,
Vou ficando
por aqui, um forte abraço.
Patos
de Minas, 03/11/99
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