quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A CIDADE REAL A CIDADE DA MEMÓRIA



A CIDADE REAL
A CIDADE DA MEMÓRIA


José Eduardo de Oliveira* TÔCA

QUEM VOLTA,
PENSA AO VOLTAR
QUE MUNCA FOI...

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

OS PARDAIS DA PRAÇA/AVENIDA
SÃO OS MESMOS?
MAS AO ENTARDECER QUEM OS IDENTIFICARÁ?

A VELHA RODOVIÁRIA**
HOJE É UMA NAU SÓBRIA E SOMBRIA
NUM MAR DE LOJAS E BARES ONDE
À NOITE ALGUMAS RAMEIRAS
AINDA NAVEGAM SEM APORTAREM
A LUGAR NENHUM...

NA RUA PRINCIPAL
AGORA DE MÂO ÚNICA
OS VELHOS “CATIREIROS”
“CATIRAM” FAZENDAS QUE
PERTENCIAM A SEUS AVÓS
E QUE HOJE NÃO EXISTEM MAIS...

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

NOS BARES DA CIDADE
OS MESMOS HOMENS
AINDA CRIAM CORAGEM
ALIMENTAM ESPERANÇAS
DISCUTEM POLÍTICA, FUTEBOL,
(FALAM SOBRE MULHERES)
BEBEM OUTRA CACHAÇA.
E VÃO EMBORA
PELO CAMINHO MAIS COMPRIDO...

A MATRIZ MONUMENTAL
AINDA ABRIGA FIÉIS
MESMO SEM SINO DE BRONZE.
E AO SOL DA MANHÃ
ELA SEMPRE ESTÁ NOVA
COMO A IDÉIA DE QUE:
DIAS MELHORES VIRÃO


NO VELHO MERCADO
AS FRUTAS E OS LEGUMES
AS CARNES E OS CEREAIS
ESTÃO ESTÁTICOS E ATÔNITOS
DIANTE DOS TRANSEUNTES FAMINTOS
QUE INSACIÁVEIS APENAS OLHAM...

O QUE MUDOU? QUE MUDOU?

APENAS UM CINEMA.
(ANTES HAVIAM  TRÊS)
APENAS UM CINEMA
CONTRA O MUNDO
DA TELEVISÃO
APENAS UM...

O TEATRO TELHADO
HOJE UM EMPÓRIO
DE OUTROS ATOS: O DO CAPITAL.

NÃO HÁ FAVELAS NA CIDADE?
NA CIDADE EXISTEM AS “CASAS POPULARES”
QUE CIRCUNDAM TODA ELA
COMO UMA MURALHA DA CHINA
 INFINITA...

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

O RIO PARANAIBA TEM SEU
LEITO NO MESMO LUGAR.
MAS ONDE ESTÃO OS PEIXES?
ONDE ESTÁ AQUELA ÁGUA BARRENTA
QUE HOJE É SUJA, É POLUIDA?

E OS HOMENS E AS MULHERES DA CIDADE?
DE ONDE VIERAM?
DE QUE SERTÃO EXPROPRIADO?

PARA ONDE VÃO ESSAS CRIANÇAS
QUE SAEM DAS ESCOLAS ESTADUAIS
DOS SUBURBIOS?
VÃO PARA O VELHO “MARCOLINO”?
PARA A “ESCOLA NORMAL”?
SONHAM COM A UNIVERSIDADE?
E OS PROFESSORES
PARA ONDE VÃO AGORA
TÃO ESTIOLADOS PELO
ONIPOTENTE E FAMIGERADO
ESTADO?

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

ONDE ESTÁ A CIDADE
DOS GIGANTESCOS MILHARAIS
AO SOL?
ONDE ESTÁ A CIDADE
DAS CRIANÇAS QUE
BRINCAVAM NAS PRAÇAS?

ONDE ESTÁ A CIDADE
DOS PAIS QUE PASSEAVAM COM
OS FILHOS
AOS DOMINGOS DE TARDE?

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

ONDE ESTÃO OS PATOS, DE MINAS?
ONDE ESTÃO OS MILHOS
DE PATOS DE MILHO?
(O FOSFATO COMEU?)

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

QUEM VOLTA
QUEM VOLTA, VOLTA SEMPRE
PARA A MESMA CIDADE
MAS NÃO PARA SANTO ANTÔNIO
DOS PATOS.
NÃO PARA GUARATINGA.
NÃO PARA PATOS DE MINAS.
NÃO PARA A DESFACELADA
E DESUMANA CIDADE
QUE SE DESVELA
DIANTE
DA DOCE E IMPOSSÌVEL
CIDADE DA INFÂNCIA INESQUECÍVEL:
A CIDADE DA MEMÓRIA.

O QUE MUDOU? O QUE MUDOU?

A CIDADE DA MEMÓRIA
A CIDADE DA MEMÓRIA....


* Escrito e inscrito em 25.03.1988, para um Concurso de Poesia promovido pela SEMEC- Secretaria Municipal de Educação de Cultura de Patos de Minas – O concurso foi vencido – por méritos reais – por Vander Porto – Vandão.
- Dois anos antes eu havia concluído a Universidade (Ufop) e retornara para Patos e pensei na cidade do passado (memória) e a do presente (real).
** A velha rodoviária também foi demolida, o logradouro hoje possui a alcunha de “praça da rodoviária velha”, a casa do Major Jerônimo também foi demolida.... nós temos também a antiga prefeitura...esturricada.

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