quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Réquiem para Dona Zezé!



Réquiem para Dona Zezé!

Há alguns dias faleceu Maria José Silva Levenhagem Ferreira - “Dona Zezé”. Professora de História.
Apesar de haver trabalhado com ela por cerca de seis anos no curso de História do Unipam, eu não a conhecia. Não me recordo de tê-la visto em outro lugar, exceto dentro de uma sala de aula, nas estéreis reuniões de departamento ou nos corredores de alguma escola ou indo ou voltando para sua casa.
Em uma ocasião, quando ela por motivos particulares, teve de se licenciar de suas aulas no Unipam, tive a honra de substituí-la por trinta dias e nesta ocasião e somente nesta, estive em sua casa para pegar alguns livros que teria de utilizar nas referidas aulas.
Convivi também esporadicamente com  seu ex-marido,  no antigo Colégio Objetivo e no Polivalente. E devo ter trocado uma ou duas palavras com o seu filho mais velho.
Nós professores somos assim, convivemos anos a fio com os colegas e as colegas, mas temos poucos amigos e não conhecemos de verdade quem está  sempre ao nosso lado.
Isso me recorda um trecho do poema, “O rato e a comunidade” de Murilo Mendes, “...Que sabe esse rato de mim. E esse homem e essa mulher...”
E mesmo depois de conviver alguns anos com essa mulher que aparentemente era tão frágil e que enfrentou tantos problemas durante toda sua vida, e não conhecê-la, já a admirava antes de trabalhar com ela.
Certa  vez, quando ainda estudava em Mariana e estava em férias aqui em Patos, conheci por acaso uma  vizinha, que ao saber que eu estudava História, perguntou-me se eu não tinha o livro “Opulência e miséria das Minas Gerais”. Emprestei o livro para ela e perguntei se ela fazia faculdade, ela disse que não, e que ainda estava no segundo grau, aluna da “Escola Normal” e que foi a “Dona Zezé”, professora de História, que havia pedido para todos lerem aquele livro. Fiquei perplexo! Uma professora do interior, pedindo para ler um livro inteiro. Aquilo era espetacular, principalmente, porque a professora “Zezé” pedia para ler vários livros durante o ano. Passei a admirá-la, e mais ainda, depois que passei a lecionar nas escolas patenses e ouvia os depoimentos de alunos e ex-alunos.
Aliás, alguns deles foram alunos, depois colegas. Quantas gerações não foram seus alunos e alunas?
Mas infelizmente não fomos amigos. Nem sabia que ela não era patense. Nem há quanto tempo morava aqui. Lamentavelmente, deixarei para outros que a conheceram há décadas, contar a sua história. Só sabia que era uma mulher que tinha uma tenacidade admirável que lhe dava resistência para lecionar em várias escolas.
Não conheci de fato “Dona Zezé”, uma mulher inesquecível. Uma professora  que ficará na memória, para uns como uma professora que exigiu demais. Para outros como uma educadora que sabia da possibilidade de cada um diante dos problemas escolares. Ou ainda, e isso eu ouvi vária vezes: “Só aprendi História com a Dona Zezé!”.
O que eu sei, é que o mundo ficou pior com a morte de uma professora.  O mundo ficou pior com a morte de “Dona Zezé, professora de História”.
Ode a  “Dona Zezé”!


José Eduardo de Oliveira – Professor de História na Rede Municipal de Ensino. Folha patense

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