quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Dia do Professor:



Dia do Professor:

Sábado passado, dia 15 de outubro de 2011, atendi ao telefone, era minha mãe. Faço questão de destacar, Dona Petrina. Ligou-me por um simples e importante motivo, parabenizar-me “pelo dia do Professor”. Agradeci, conversamos sobre as mazelas e as dádivas da profissão. E aí, cometi como sempre, a maior injustiça que um filho pode cometer com qualquer um, mas indesculpável com a própria mãe. Esqueci-me de retribuir o solene cumprimento. Minha mãe também é uma Professora. Normalista, que por longos anos alimentou seus sonhos e os filhos dos outros e nós filhos dela, com os seus conhecimentos adquiridos com rigor e amor nos bancos escolares da “Escola Normal” de Patos de Minas. Aprendeu até francês. Como aposentada, tem ainda, e guarda com orgulho seu anel de formatura, pedra verde. De esperança.
Hoje, ser Professor ou Professora está um pouco diferente. Não somos mais ameaçados apenas pela ignorância natural que nasce com todos nós seres humanos e acabamos por derrotar.  Há um mundo mais complexo e até mais cruel que temos que suportar, mas, sobretudo tentar modificar. As crianças continuam no “campo de centeio”,  cada vez mais e mais inermes e fragilizadas, mas continuam arrogantes. Mas o mundo moderno as tornou mais vulneráveis e distantes dos educadores. Nós perdemos nosso carisma e porque não dizer, infelizmente, nossa função de mestres. Caminhamos por nos tornar obsoletos.
Mas continuamos nossa labuta e nossa jornada, a despeito da conversa fiada de todos os políticos, propondo mentiras como se fossem desenhos nos quadros negros, hoje verdes...sempre apagados. Continuamos.
Mas hoje estou um pouco amargo e isto é bom, porque nós devemos sempre estar insatisfeitos quando alguma coisa ou várias coisas estão erradas. Sobretudo na escola. O velho Bertolt Brecht, escreveu: “Nunca digam - Isso é natural. Diante dos acontecimentos de cada dia, numa época em que corre o sangue. Em que  arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se desumaniza. Não digam nunca: isso é natural.”
E por coincidência, estou lendo um livro de 1900, escrito por um polonês-marinheiro, que comeu o pão que o diabo amassou com o rabo, Joseph Conrad, livro difícil que comecei a ler há muito tempo, e  ainda não terminei mas não desisti: “Lord Jim”.
 E que ligação, tem o professor com esse livro? O que tem a marinha com o magistério? Aliás, todas as fainas, palavra com cheiro de mar, por sinal, possuem seus espinhos e suas rosas, por assim dizer...
Mas, Conrad, tem uma página genial sobre a vida marítima e os marinheiros, que tenho a ousadia de usar como se fosse a vida no magistério e os professores:
“Em nenhuma outra existência, como na marítima [no magistério], a ilusão é mais afastada da realidade; nenhuma outra comporta estreias que não sejam senão ilusões; nenhum desencantamento mais rápido, ou tão completa escravidão. Não temos nós todos começado com o mesmo desejo, acabado com a mesma experiência, guardado a recordação da mesma esplêndida esperança, renovada no fundo de nossa alma através dos dias de imprecação? É pois de espantar que, no dia em que algum rude golpe nos atinja nos sintamos ligados àquela vida por apertadíssimos elos e que, ao lado das camaradagens de oficio, experimentemos o poder de um sentimento mais profundo, o mesmo que liga um homem a uma criança?”
Como no mar às vezes uma ligeira brisa nos faz náufragos e soçobramos rapidamente. Outras vezes as mais terríveis borrascas não nos tiram do timão, ainda que ele seja feito de giz ordinário, não nos tiram do rumo traçado em direção ao futuro. Nossas naves são as salas de aulas repletas de grumetes às vezes sonolentos, às vezes intrépidos que afoitos querem a todo custo romper o nevoeiro do não saber. E na maioria das vezes são ruidosos amotinados sem causa...
Talvez a sentença de William Shakespeare, no momento em que Antônio faz o necrológio de Júlio César, valha também para os professores: “Aos homens sobrevive o mal que fazem, mas o bem quase sempre com seus ossos fica enterrado.” Serão os professores esquecidos?
Minha mãe haverá de desculpar-me. Não esqueci. Fiquei tão empolgado com aquela saudação, a primeira daquele dia, que esqueci por um breve momento, que ela também era uma Professora. É! A maior e a melhor de todas: mãe e mestra!

José Eduardo de Oliveira, Professor
Folha Patense  22.10.2011, pág. 8

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