quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

SOPRO DA MADRUGADA



SOPRO DA MADRUGADA

“Às cinco da manhã a angústia se veste de branco...”
Vinícius de Moraes

Foi numa madrugada de maio, no Mezanino, o lançamento do livro, Sopro da Madrugada, de Wander Porto, o Wandão. Cheguei de madrugada e muitos convivas já haviam se retirado para suas madrugadas.  O prefeito foi um dos últimos que vi na rua deserta e fria.
No Mezanino, o poeta estava exultante, magnânimo e simples. O seu conluio com Baco, os últimos convivas e a madrugada, era perfeito. “Eduardo, tenho certeza que sentimos os mesmo aromas, obrigado”, foi sua dedicatória. Aí, fiz a pergunta, mais banal e profunda, já que eu queria a alma do poeta e do livro: “Qual dos poemas...poeta... qual  deles você gosta mais?”. 
O poeta pediu licença e desculpas, mas gostava de todos - o que é óbvio.  No entanto leu, ou melhor, pediu que eu lesse “Madrigal”. Depois leu “Matilha”.
Mas antes de “...adivinhar o sol..”, corri os olhos pelo ambiente do restaurante e pelos habitantes daquela caverna e senti o sopro e o cheiro dos que ali estavam e o dos que foram embora pela madrugada: algumas Claudias foram-se embora, outras ficaram, o mesmo se pode dizer das Marlenes.  Mas Brício, só um.  Paulão idem. E as Marias? A mulher que não procurava, estava em outras madrugadas, cálidas. As Valquírias foram para suas valhalas. Os músicos estavam ali, porque de madrugada a música e o silêncio compõe o “sopro da madrugada”, tanto quanto um grito de orgasmo ou de solidão.  O sopro da madrugada, cada um tem ou recebe o seu, mas são os poetas, como o Wandão é que decifram suas filigranas abissais.
Cada um tem  sua madrugada e suas brumas. Eu tinha um amigo, que dizia: “Na minha terra, onze horas da noite, ainda é de dia...”.  E o poeta sabe muito bem, que poderia cantar o bafo do dia.  Ou o hálito do amanhecer... Mas sua matéria-prima no momento, é a madrugada  e suas forças telúricas. As madrugadas: as libações, os versos, as insônias e o sexo. Não necessariamente nesta ordem.
Aliás, são nas madrugadas, e o poeta, nos ensina, “nos sopros da madrugada”,  é que catamos os cheiros das musas.  Das deusas, e mesmo das  lúbricas e “idolatradas” mineiras. Também internetamos certezas poetais.
E também, Wandão, não sei se é bom ou ruim: as madrugadas te pertencem, e nelas você pode se sentir “só e dono”.  Parabéns,  mais uma vez, pelas palavras e canções com que nos ofertou.
Poeta, vou ficando por aqui, amanhece.  E nós sabemos, que a madrugada trás a luz, o dia  e a vida necessária, gestada  no “sopro da madruga” dessas noites paranaíbas...

 José Eduardo de Oliveira.
Folha Patense,  30.06.2000, p. 11

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