SOPRO DA
MADRUGADA
“Às cinco da manhã a angústia se veste de branco...”
Vinícius de Moraes
Foi numa madrugada de maio, no
Mezanino, o lançamento do livro, Sopro da
Madrugada, de Wander Porto, o Wandão.
Cheguei de madrugada e muitos convivas já haviam se retirado para suas
madrugadas. O prefeito foi um dos
últimos que vi na rua deserta e fria.
No Mezanino, o poeta estava
exultante, magnânimo e simples. O seu conluio com Baco, os últimos convivas e a
madrugada, era perfeito. “Eduardo, tenho certeza que sentimos os mesmo aromas,
obrigado”, foi sua dedicatória. Aí, fiz a pergunta, mais banal e profunda, já
que eu queria a alma do poeta e do livro: “Qual dos poemas...poeta... qual deles você gosta mais?”.
O poeta pediu licença e
desculpas, mas gostava de todos - o que é óbvio. No entanto leu, ou melhor, pediu que eu lesse
“Madrigal”. Depois leu “Matilha”.
Mas antes de “...adivinhar o
sol..”, corri os olhos pelo ambiente do restaurante e pelos habitantes daquela
caverna e senti o sopro e o cheiro dos que ali estavam e o dos que foram embora
pela madrugada: algumas Claudias foram-se embora, outras ficaram, o mesmo se
pode dizer das Marlenes. Mas Brício, só
um. Paulão idem. E as Marias? A mulher
que não procurava, estava em outras madrugadas, cálidas. As Valquírias foram
para suas valhalas. Os músicos estavam ali, porque de madrugada a música e o
silêncio compõe o “sopro da madrugada”, tanto quanto um grito de orgasmo ou de
solidão. O sopro da madrugada, cada um
tem ou recebe o seu, mas são os poetas, como o Wandão é que decifram suas
filigranas abissais.
Cada um tem sua madrugada e suas brumas. Eu tinha um
amigo, que dizia: “Na minha terra, onze horas da noite, ainda é de
dia...”. E o poeta sabe muito bem, que
poderia cantar o bafo do dia. Ou o
hálito do amanhecer... Mas sua matéria-prima no momento, é a madrugada e suas forças telúricas. As madrugadas: as
libações, os versos, as insônias e o sexo. Não necessariamente nesta ordem.
Aliás, são nas madrugadas, e
o poeta, nos ensina, “nos sopros da madrugada”,
é que catamos os cheiros das musas.
Das deusas, e mesmo das lúbricas
e “idolatradas” mineiras. Também internetamos
certezas poetais.
E também, Wandão, não sei se
é bom ou ruim: as madrugadas te pertencem, e nelas você pode se sentir “só e
dono”. Parabéns, mais uma vez, pelas palavras e canções com
que nos ofertou.
Poeta, vou ficando por aqui,
amanhece. E nós sabemos, que a madrugada
trás a luz, o dia e a vida necessária,
gestada no “sopro da madruga” dessas noites paranaíbas...
José Eduardo de Oliveira.
Folha Patense,
30.06.2000, p. 11
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