LINCOLN Livro que baseou o filme de
Steven Spielberg?
Exatamente, hoje, 12/02, os fãs do ex-presidente dos
Estados Unidos, Abraham Lincoln, comemoram 204 anos de seu nascimento.
Coincidentemente terminei de ler a última e mais polêmica biografia sobre ele.
E aí, por ser carnaval e eu estar sóbrio resolvi escrever essa bobeira.
Cara, que decepção, ou quase. Terminei de ler LINCOLN, de
Doris Kearn Goodwin, que segundo a editora Record, "Livro que baseou o
filme de Steven Spielberg". Nada mais falso. Pode ser que o livro original
em inglês, tenha realmente servido de base, como entendemos por aqui. Mas esta
edição brasileira, só tem uma frase sobre a aprovação da “13ª Emenda à
Constituição Americana”, que é no filme homônimo de Steven Spielberg, o fulcro
de todo enredo, cujo roteiro priorizou o início, o meio e o fim dos últimos debates
realizados em pleno desenvolvimento de uma sangrenta guerra civil (a “sangreira
patriótica” de Edmund Wilson), dentre as vitórias políticas de Lincoln, a que
talvez fosse a mais importante de suas realizações: o fim da escravidão nos
Estados Unidos da América, fato que ocorreu no dia 31 de janeiro de 1865. Infelizmente não sei inglês e não li,
obviamente o livro original "Team of Rivals; The Political Genius of
Abraham Lincoln" (2005). E se realmente, como consta nos créditos do filme
de Spielberg, ele tenha se baseado de fato na obra de Goodwin, a tradução
nacional, omitiu os debates desta interessante parte do livro. Raquel Cozer,
colunista da Folha de S. Paulo, já havia nos alertado sobre isso, a edição
brasileira de 320 páginas, na verdade 321, é um resumo da original de 944, e “Mas
o leitor não encontrará na edição quase nada do que é retratado na tela.” Elio
Gaspari, outro articulista do mesmo jornal, também havia nos advertido: “A
autora fez uma versão resumida que foi publicada na França e saiu no Brasil,
com um terço do tamanho. Com os cortes, sumiu a cabala narrada no filme.” Não sei se era a cabala, mas no filme...nada!
Bom, se não sei inglês, também não deveria opinar sobre a tradução. Mas
qualquer cara que já leu livros traduzidos sabe minimamente diferenciar uma boa
de uma péssima tradução. Logo no inicio do livro, falaram de uns pedaços de
madeira que Lincoln como lenhador teria “partido” e não cortado ou serrado! Sem
contar que tem uma nota de rodapé, onde explica sobre os “canhões de quacres”
de forma imprecisa! E um bizarro, “Estado dos Castanheiros” etc. Meu filho
achou que esta tradução parecia coisa desses
tradutores da rede tipo “Translator”. Além disso, tiraram o subtítulo,
ou melhor mudaram o título para o mais comercial,
do filme, “Lincoln”, tiraram os mapas, tiram as fotografias e as referências. O livro foi mesmo “para brasileiros ler...”. Na França o livro foi publicado no ano passado com o título, Abraham Lincoln : L'Homme qui rêva l'Amérique (“Abraham Lincoln: O homem que sonhou a América”), também em uma edição resumida com 333 páginas.
do filme, “Lincoln”, tiraram os mapas, tiram as fotografias e as referências. O livro foi mesmo “para brasileiros ler...”. Na França o livro foi publicado no ano passado com o título, Abraham Lincoln : L'Homme qui rêva l'Amérique (“Abraham Lincoln: O homem que sonhou a América”), também em uma edição resumida com 333 páginas.
Entretanto, resumo ou não, foi uma quase decepção. Quase,
porque mesmo mutilado e depenado o livro é muito bom! Magistral, usando uma
palavra muito bonita e cheia de propriedades. Sobretudo pelo conteúdo fruto de
pesquisa original e sólida de dez anos feita pela autora, segundo apresentação
da orelha, que entende do ramo. Ao contrário da Editora (paradoxalmente) e da tradutora.
Bom, o filme, que no momento dispensa elogios (o espaço e
a minha capacidade são pequenos) optou por nos mostrar os últimos quatro meses
da vida do presidente em 1865, e uma foi escolha do diretor. Já o livro-resumo,
começa em 1860 com a indicação do modesto advogado a presidente pelo Partido
Republicano e culmina, como toda boa biografia, com a trágica morte do
biografado ocorrida no dia 15 de abril de 1865. Na noite anterior ele foi
baleado pelo ator confederado, John
Wilkes Booth em um teatro em Washington.
Goodwin nos mostrou uma biografia original, onde o
biografado é apresentado por outros biografados, aliás, por um time cheio de
rivais no mesmo jogo (Team of Rivals), no jogo decisivo da política pelo poder. A pesquisadora, além de se utilizar de
biografias, documentos oficiais e até do próprio Lincoln (discursos, cartas
etc.) se utiliza de diários, correspondências e inúmeros outros, de políticos
que foram colaboradores e até inimigos políticos do presidente. O resultado,
mesmo a despeito dos problemas técnicos da editora, foi um vigoroso mural da
trajetória de um homem que viveu o seu tempo, no seu tempo, mas forjou o futuro
dos outros em outros tempos. Ali conhecemos melhor, muito melhor, quem foi o
homem, o político, o marido, o pai e o amigo, mesmo no meio daquele time de
rivais. E para terminar esta “pelada”, numa comparação que odeio: Lincoln, foi
ao mesmo tempo, jogador, técnico, bandeirinha, juiz, a torcida e pasmem, a bola.
E como foi chutado! Mas marcou todos os gols.
José Eduardo de Oliveira -
Professor de História – 12.02.2013
Folha Patense,
23/02/2013 – nº 1035 – Ano, 21, p. 19
Nenhum comentário:
Postar um comentário