Democracia nas Escolas?
“...Temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez...” (Citado
por Eduardo Galeano, Historiador uruguaio)
No jornal Folha Patense (14/06/2003 - pág. 3),
foi publicado o artigo “Democracia nas Escolas” do diretor da Escola Municipal
“Major Augusto Porto”, Humberto Corrêa dos Santos. Sobre ele é que gostaria de
tecer alguns comentários.
Primeiramente, gostaria de
dizer que concordo com o autor quando ele diz que “A eleição direta para
diretores por si só não é suficiente para que se vislumbre propostas
democráticas na Escola”, e também “Segundo os parâmetros atuais, o processo de
eleição para diretores tem causado muitos transtornos no ambiente da escola”.
Realmente, eleição não
significa que haverá democracia. No entanto, um dos pilares da democracia
moderna é o voto. Outrossim, o atual processo de eleição para diretores contém
muitas imperfeições, sobretudo no que tange ao Decreto 2.319/2000 que dispõe
sobre eleição de diretores e vice-diretores. Acho que o decreto deve ser
novamente discutido e aperfeiçoado.
Também acredito que a
questão da DEMOCRACIA nas Escolas tem que ser mais aprofundada. Acredito na
democracia “como um valor universal”. Um valor que foi conquistado a ferro,
fogo e muito sangue bom. Se a democracia
ou “governo do povo” é uma “Doutrina ou regime político baseado nos princípios
da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, ou seja, regime de
governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela
divisão de poderes e pelo controle da autoridade.”, na prática ela não tem sido
aplicada. Principalmente nas escolas.
Isso mesmo. A democracia
sempre foi uma farsa nas escolas. Ali existe muita demagogia. Paradoxalmente
ela sequer é discutida. Inacreditavelmente as palavras e as ações democráticas
desaparecem misteriosamente depois do ato de posse dos eleitos.
Por que isso acontece?
Quando Humberto Corrêa dos
Santos nos diz que “...é preciso que os educadores reflitam a respeito da
limitação em termos de proposta democrática do processo de eleição para
diretores.” Eu fiquei perplexo, porque na minha “miopia intelectual”
interpretei que é preciso acabar com a eleição direta para diretores. É preciso
acabar com a democracia?
Caro Humberto, se com
eleição democrática a democracia não tem funcionado, será com a volta dos
diretores interventores, sejam eles cunhados, parentes ou colegas dos
prefeitos, os problemas serão resolvidos? Será que os inúmeros problemas que a
escola enfrenta hoje são causados pela democracia? Acredito que não. Ademais a
democracia é ainda “um problema” em toda a cidade e em todo o país e no mundo.
Será que uns nasceram para mandar e outros para obedecer? E somente uns e
outros poucos eleitos possuem o dom da infalibilidade?
O problema é o nosso silêncio
diante dos problemas. O nosso silêncio é fruto de acomodação, conivência,
covardia e de medo. É, muito medo. Pois se os diretores foram eleitos por nós
suas práticas quotidianas e autoritárias não diferem muito daquelas dos que
eram indicados pelos prefeitos.
Aliás, é preciso inclusive
discutir como e o que ocorreu no último processo eleitoral para diretores. Para
se tiver uma idéia, escrevi um pequeno artigo no informativo “Olho vivo”,
visando discutir a questão “Que diretora queremos?”. O jornal desapareceu de algumas escolas ou em
outras era discutido pelos cantos.
É preciso discutir e
melhorar o processo democrático, porque como disse uma importante personalidade
aqui em Patos de Minas, “A sociedade é a caixa de ressonância da escola.” Que
cidadãos nós estamos formando se temos aversão à democracia?
Que democracia
queremos?
José Eduardo de Oliveira - Professor da
Rede Municipal de Ensino.
Folha
patense 28.06.2003, p. 6
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