Existe
outro caso na História?
Meu
pai faleceu em novembro de 2016. Pai enérgico, policial aposentado, “bravo”,
mas de uma benevolência com os parentes, que alguns ainda hoje acham
inverossímil. Um olhar de repreensão
dele só não era pior que “um tapa na taba do pescoço” que ele dava quando
precisava, ou achava que sim, e por sinal era pior que coice de burro com
ferradura. Enfim um homem das antigas, chauvinista, se fosse mais bem de vida
seria um verdadeiro coronel ou em outras eras um senhor de casa grande com
senzala e tudo. Mas nem por isso nunca deixou de ser um bom pai. Mas os amigos
e companheiros de copo e farras sempre o conheceram como um dos maiores
contadores de piadas do mundo. Além de ter fama de “raparigueiro”. E nisso ele
misturava casos corriqueiros mundanos com os de sua família lá do Carmo do
Paranaíba, ainda que alguns fossem pouco plausíveis e sórdidos ao extremo.
Vamos
lá.
Um
deles, contado geralmente em volta de uma mesa em algum rancho de beira de rio
e somente para homens já tocados pelas “cobras de vidros”, era esse:
Em
uma fazenda, não me recordo se para o lados das Almas ou da Veloza, um de seus
primos em cima de um barranco, com as calças arriadas até aos pés, estava
“fazendo” a eguinha Baínha. Um apaixonado. Além de acariciá-la, ainda proferia
juras de amor. “Meu tesouro, se eu pudesse casava concê”. E beijava aquele dorso pardo e reluzente
naquele pasto ameno e naquela tarde inesquecível. Enfim, “te amo”. E nisso, um
raminho começou a cutucar em suas nádegas e ele sem interromper aquele frêmito
afazer, ia quebrando aquele arbusto que o incomodava, até que, de repente pega
em uma mão e ao olhar para trás era nada menos nada mais que o seu pai. Assustado e sem saber o que dizer, disse
simplesmente:
-
Pai não sou eu não!
E
onde quero chegar com esse grotesco e corriqueiro, provavelmente, caso de
zoofilia sertaneja?
Primeiramente
é uma constatação óbvia, que qualquer um, mesmo pego com “a boca na botija”,
nunca aceita o seu erro ou a sua culpa. Possivelmente, seja o homem o único animal
irracional neste quesito...
Poderia
citar milhares de exemplos. Inclusive meus. Mas ninguém assume sua culpa! Sem
querer e já citando, um dos casos mais conhecidos e antigos é de Pedro que
negou Cristo – veja bem, Cristo, por três vezes...e depois virou a pedra
angular de “catedrais imensas...” Pobre Alphonsus...
E
mesmo em casos mais escabrosos roubos, furtos, latrocínio, parricídio, estupros
etc., os culpados nunca aceitam suas culpas e quando aceitam sempre possuem uma
desculpa, causas inclusive espirituais ou extraterrestes, porque aquilo foi
acontecer.
Pois
bem.
Já
virou banal o assunto de corrupção política. Alguns corruptores para se verem
livres optam pela delação premiada. Pelo menos estão fazendo um bem à
dilapidada Nação. Pagando os seus pecados, diminuindo um pouco suas penas e
condenando os verdadeiros culpados às profundezas das jaulas humanas...
Já
os acusados, até agora todos se consideram inocentes: vítimas de perseguição
política ou de juízes venais ou banais...
Já
que escrevi isso em abril e outro dia mesmo recordaram pela milésima vez a
figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o Protomártir da
Independência do Brasil, de novo ele foi a minha cobaia. Meio que de ponta
cabeça, afinal quem é culpado e quem é inocente? Quem é traidor ou herói. Jorge
Luís Borges ensaiou isso muito bem com o seu “Tema do traidor e do herói.”
Já
que nada ainda está resolvido e provavelmente teremos mais traidores que
heróis, ou culpados e condenados, só mesmo a ficção para nos aliviar dessa doença
em putrefação que é mente humana da maioria de nossos homens públicos, os
“pulíticus brasiliensis”.
O
nosso herói no momento será o traidor e os traidores serão os heróis ou
vice-versa? O mísero Alferes de Villa Rica é recorrente, mesmo partido em quartos
que na verdade, se contarmos foram quintos não auríferos, mas carníferos, se me
permitem.
Vamos
supor que o Juiz Sérgio Moro – claro, que é uma digressão -, seja o Supremo
Inquisidor e Executor português dos Inconfidentes. E não conjurados! Isso
mesmo, inconfidentes porque foram contra a cora portuguesa, ou seja, os que não
foram fieis e traíram a pátria portuguesa.
E
como a devassa que se estabeleceu foi violenta e cruel com os acusados,
inclusive Tiradentes, todos, todos mesmo, negaram seus envolvimentos e além de
se dizerem inocentes acusaram uns aos outros. Uma vergonha, inclusive com a “delação
premiada”, dizem, de Joaquim Silvério dos Reis e outros etc. Claudio Manoel da
Costa, não suportou a perseguição politica e provavelmente “foi suicidado”, tipo
Herzog, noutro contexto. Tomas Antônio
Gonzaga, só pensava na Marília. Inácio de Alvarenga Peixoto na pobre e
ensandecida e bela Bárbara. Os outros, deixa pra lá que isso não é aula de
Educação Moral e Cívica...mas tudo farinha do mesmo saco e todos e mesmo
comprovadamente envolvidos, ainda que por provas circunstanciais e sem muita
materialidade já que naquela época não tinha bancos nas Minas e nem contas no
exterior...para brasileiros...
Bom.
Primeiro uma pergunta: será que teremos algum dia a leitura da condenação dos
principais cabeças? Enforcar, nem pensar!
E
para encerrar esse ponto sem nó, o Inquisidor Mor, em nome de Dona Maria I, a
louca doida, condenou somente o Tiradentes, apesar de que inicialmente ter
negado seu envolvimento, foi o único, olha só, o único que admitiu sua culpa.
Na História da Humanidade quantos já fizeram isso? Hem?
E
o mais interessante é que do ponto em que estamos, qual foi a sua culpa?
Confessar que queria a liberdade, dele e de sua terra natal? Ainda que tivesses
seus interesses particulares, é claro.
Os
outros também queriam, mas diante do Inquisidor e da sombra da forca, todos
negaram!
E
se fosse o contrário? Se os agora
Conjurados conspirassem para executar seus executores os espoliadores da terra
o que aconteceria? Eles, os conjurados seriam inocentes ou culpados! E o
culpado seria o julgador dos inocentes? É isso que querem fazer hoje, julgar os
que julgam? Os considerados como sempre
inocentes irão julgar os que eles consideram os culpados.
Só
sei que, o que não era culpado de nada de verdade, foi mesmo assim, o que se
considerou culpado do que não tinha culpa. Não há saídas? E Kafka ainda estava
muito longe do canal seminífero do velho e cruel pai...
É
o que está ocorrendo hoje no Brasil?
Todos
são inocentes e o culpado é o povo brasileiro, a justiça brasileira? O Moro? A
honestidade brasileira? A Constituição brasileira? O eleitor/idiota/venal
brasileiro? As verdinhas brasileiras?
Já
sei o culpado, não é um culpado é uma culpada: é a égua do meu ancestral, lá do
Carmo do Paranaíba que vergonhosamente seduziu o meu ancestral! E ponto final!!
Exercício
patético esse meu! Esse nosso...
José
Eduardo de Oliveira - 25.04.2017
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