quarta-feira, 3 de abril de 2019

Existe outro caso na História?


Existe outro caso na História?

Meu pai faleceu em novembro de 2016. Pai enérgico, policial aposentado, “bravo”, mas de uma benevolência com os parentes, que alguns ainda hoje acham inverossímil.  Um olhar de repreensão dele só não era pior que “um tapa na taba do pescoço” que ele dava quando precisava, ou achava que sim, e por sinal era pior que coice de burro com ferradura. Enfim um homem das antigas, chauvinista, se fosse mais bem de vida seria um verdadeiro coronel ou em outras eras um senhor de casa grande com senzala e tudo. Mas nem por isso nunca deixou de ser um bom pai. Mas os amigos e companheiros de copo e farras sempre o conheceram como um dos maiores contadores de piadas do mundo. Além de ter fama de “raparigueiro”. E nisso ele misturava casos corriqueiros mundanos com os de sua família lá do Carmo do Paranaíba, ainda que alguns fossem pouco plausíveis e sórdidos ao extremo.
Vamos lá.
Um deles, contado geralmente em volta de uma mesa em algum rancho de beira de rio e somente para homens já tocados pelas “cobras de vidros”, era esse:
Em uma fazenda, não me recordo se para o lados das Almas ou da Veloza, um de seus primos em cima de um barranco, com as calças arriadas até aos pés, estava “fazendo” a eguinha Baínha. Um apaixonado. Além de acariciá-la, ainda proferia juras de amor. “Meu tesouro, se eu pudesse casava concê”.  E beijava aquele dorso pardo e reluzente naquele pasto ameno e naquela tarde inesquecível. Enfim, “te amo”. E nisso, um raminho começou a cutucar em suas nádegas e ele sem interromper aquele frêmito afazer, ia quebrando aquele arbusto que o incomodava, até que, de repente pega em uma mão e ao olhar para trás era nada menos nada mais que o seu pai.  Assustado e sem saber o que dizer, disse simplesmente:
- Pai não sou eu não!
E onde quero chegar com esse grotesco e corriqueiro, provavelmente, caso de zoofilia sertaneja?
Primeiramente é uma constatação óbvia, que qualquer um, mesmo pego com “a boca na botija”, nunca aceita o seu erro ou a sua culpa. Possivelmente, seja o homem o único animal irracional neste quesito...
Poderia citar milhares de exemplos. Inclusive meus. Mas ninguém assume sua culpa! Sem querer e já citando, um dos casos mais conhecidos e antigos é de Pedro que negou Cristo – veja bem, Cristo, por três vezes...e depois virou a pedra angular de “catedrais imensas...” Pobre Alphonsus...
E mesmo em casos mais escabrosos roubos, furtos, latrocínio, parricídio, estupros etc., os culpados nunca aceitam suas culpas e quando aceitam sempre possuem uma desculpa, causas inclusive espirituais ou extraterrestes, porque aquilo foi acontecer.
Pois bem.
Já virou banal o assunto de corrupção política. Alguns corruptores para se verem livres optam pela delação premiada. Pelo menos estão fazendo um bem à dilapidada Nação. Pagando os seus pecados, diminuindo um pouco suas penas e condenando os verdadeiros culpados às profundezas das jaulas humanas...
Já os acusados, até agora todos se consideram inocentes: vítimas de perseguição política ou de juízes venais ou banais...
Já que escrevi isso em abril e outro dia mesmo recordaram pela milésima vez a figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o Protomártir da Independência do Brasil, de novo ele foi a minha cobaia. Meio que de ponta cabeça, afinal quem é culpado e quem é inocente? Quem é traidor ou herói. Jorge Luís Borges ensaiou isso muito bem com o seu “Tema do traidor e do herói.”
Já que nada ainda está resolvido e provavelmente teremos mais traidores que heróis, ou culpados e condenados, só mesmo a ficção para nos aliviar dessa doença em putrefação que é mente humana da maioria de nossos homens públicos, os “pulíticus brasiliensis”.
O nosso herói no momento será o traidor e os traidores serão os heróis ou vice-versa? O mísero Alferes de Villa Rica é recorrente, mesmo partido em quartos que na verdade, se contarmos foram quintos não auríferos, mas carníferos, se me permitem.
Vamos supor que o Juiz Sérgio Moro – claro, que é uma digressão -, seja o Supremo Inquisidor e Executor português dos Inconfidentes. E não conjurados! Isso mesmo, inconfidentes porque foram contra a cora portuguesa, ou seja, os que não foram fieis e traíram a pátria portuguesa.
E como a devassa que se estabeleceu foi violenta e cruel com os acusados, inclusive Tiradentes, todos, todos mesmo, negaram seus envolvimentos e além de se dizerem inocentes acusaram uns aos outros. Uma vergonha, inclusive com a “delação premiada”, dizem, de Joaquim Silvério dos Reis e outros etc. Claudio Manoel da Costa, não suportou a perseguição politica e provavelmente “foi suicidado”, tipo Herzog, noutro contexto.  Tomas Antônio Gonzaga, só pensava na Marília. Inácio de Alvarenga Peixoto na pobre e ensandecida e bela Bárbara. Os outros, deixa pra lá que isso não é aula de Educação Moral e Cívica...mas tudo farinha do mesmo saco e todos e mesmo comprovadamente envolvidos, ainda que por provas circunstanciais e sem muita materialidade já que naquela época não tinha bancos nas Minas e nem contas no exterior...para brasileiros...
Bom. Primeiro uma pergunta: será que teremos algum dia a leitura da condenação dos principais cabeças? Enforcar, nem pensar!
E para encerrar esse ponto sem nó, o Inquisidor Mor, em nome de Dona Maria I, a louca doida, condenou somente o Tiradentes, apesar de que inicialmente ter negado seu envolvimento, foi o único, olha só, o único que admitiu sua culpa. Na História da Humanidade quantos já fizeram isso?  Hem?
E o mais interessante é que do ponto em que estamos, qual foi a sua culpa? Confessar que queria a liberdade, dele e de sua terra natal? Ainda que tivesses seus interesses particulares, é claro.
Os outros também queriam, mas diante do Inquisidor e da sombra da forca, todos negaram!
E se fosse o contrário?  Se os agora Conjurados conspirassem para executar seus executores os espoliadores da terra o que aconteceria? Eles, os conjurados seriam inocentes ou culpados! E o culpado seria o julgador dos inocentes? É isso que querem fazer hoje, julgar os que julgam?  Os considerados como sempre inocentes irão julgar os que eles consideram os culpados.
Só sei que, o que não era culpado de nada de verdade, foi mesmo assim, o que se considerou culpado do que não tinha culpa. Não há saídas? E Kafka ainda estava muito longe do canal seminífero do velho e cruel pai...
É o que está ocorrendo hoje no Brasil?
Todos são inocentes e o culpado é o povo brasileiro, a justiça brasileira? O Moro? A honestidade brasileira? A Constituição brasileira? O eleitor/idiota/venal brasileiro? As verdinhas brasileiras?
Já sei o culpado, não é um culpado é uma culpada: é a égua do meu ancestral, lá do Carmo do Paranaíba que vergonhosamente seduziu o meu ancestral! E ponto final!!
Exercício patético esse meu! Esse nosso...

José Eduardo de Oliveira - 25.04.2017

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