Abril é o mês das datas
oficiais. Tem o dia 21 de Tiradentes, inauguração de Brasília, morte Tancredo
Neves. E o ignorado 22 da Descoberta do Brasil. Sem contar o 19 do Índio (o tal
que é melhor em velório). Mas o que se destacou em 1997, foi o 18 de abril: Dia
Nacional do Livro Infantil. Não tiveram coragem de homenagear diretamente o
José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), já que este foi o dia em que aquele
malfadado taubateano veio ao mundo, não só para escrever livros para crianças e
adultos, mas também explicar e defender o Brasil e as coisas brasileiras,
inclusive sendo até preso por isso. Assim não é o dia de Monteiro Lobato, mas o
dia do Livro Infantil. E hoje, considerado eugenista, por enquanto...
Mas vamos aos fatos.
Não sei quem do CAIC (Escola
Municipal Professor Aristides Memória), escola municipal em Patos de Minas, da
periferia, ferida, decidiu ou arquitetou - suponho- prestar uma homenagem à
Martha Caixeta de Queiroz, ex-diretora deste estabelecimento na gestão do
prefeito Jarbas Cambraia (1993-1996). Mais do que merecido, pois é público e
notório que Martha Caixeta além de competente, é educada e muito querida em
toda Patos de Minas. E certamente, se seu nome tivesse sido levado de fato e
claramente às urnas, ou seja, fosse candidata, ela seria escolhida. E tudo estaria
bem. Mas o método e a farsa montados para que assistíssemos perplexos, é que
foram inacreditáveis numa escola.
Em fins de março, já existia um
boato que no dia 18/04, haveria um evento relativo à data e para tanto,
realizaram uma eleição para escolher um patrono ou patrona para a biblioteca já
que a mesma ainda não tinha um nome. E além do mais, uma biblioteca sem nome,
ninguém localiza. Não é mesmo?
“Vamos escolher o patrono de
nossa Biblioteca?” - era assim o cabeçalho da cédula mimeografada a álcool, em que
continham nomes de “autores muito importantes da Literatura Brasileira” em duas
colunas. De um lado autores patenses – mesmo que a maioria não tenha nascido em
Patos: Altino Caixeta, Agenor Gonzaga, Wilson Pereira, Clênio Pereira, Wando
Porto, Autran Dourado e Ricardo Marques. De outro: Monteiro Lobato, Cecília Meireles,
Vinícius de Moraes, Marcos Rei (sic), Carlos Drummond de Andrade e Machado de
Assis.
Foi uma festa para os alunos
das 5ªs. e 6ªs. séries do ensino
fundamental, e segundo a Dona Graça, que era a escrutinadora da coisa, houve um
empate entre Cecilia Meireles e Monteiro Lobato. Este último foi o escolhido em
todas as turmas por aclamação. Foi um belo e ruidoso espetáculo democrático. No
entanto ao serem afixados os convites para a homenagem ao patrono, lemos que o
patrono seria outro, seria uma patrona ou matrona: Martha Caixeta de Queiroz.
Perguntei à supervisora Carmem, ela disse que a mais votada teria sido Martha.
Em qual eleição? Alguns alunos também
perguntaram já que nem o nome dela constava na cédula de “autores muito
importantes”. Eu já vi muita fraude eleitoral, mas empossar candidato que nem isso
era, foi a primeira vez. Então? E numa escola? Mas a farsa não parou por aqui.
No dia do evento, aconteceu
mais uma coisa no mínimo paradoxal.
Estávamos na biblioteca
aguardando as autoridades e alguns convidados, que para variar, sempre chegaram
atrasados, e uma professora, Lidamar, que não foi devidamente esclarecida da
farsa e que estava com seus alunos de CDA (Curso Básico de Alfabetização)
retirou da estante alguns LIVROS INFANTIS e distribuiu para os alunos que folheavam
atentos, apesar de estarem trêmulos de frio, já que tinham que ostentar a camisa
do uniforme mesmo naquele frio cortante de abril... No entanto a professora foi
advertida pela bibliotecária que lhe disse que não poderiam ler, por que
naquela hora não havia expediente. “Meninos, eu vi!”, a professora guardou os
livros e os menininhos e as menininhas foram tremulamente para um cantinho e
ficaram bem arrumadinhos como os livros da biblioteca.
A manhã estava fria e tudo
correu certinho conforme o programa: a biografia da patrona (não consta que ela
escreveu algum livro), a entronização da foto, discursos, homenagens artísticas,
descerramento da placa e o lanche na administração.
Tudo certinho se não fosse a
farsa eleitoral que mostraria de fato - conforme disse uma das pessoas que
usaram a palavra - que os brasileiros leem, tanto é que escolheram um escritor
que eles conhecem, sem ter sido ele o homenageado. Tudo oficialmente
arrumadinho se não fosse a proibição de ler um livro infantil, no dia do Livro Infantil.
Tudo certinho se não fosse o nosso silêncio cúmplice daquela farsa. Mas como
disse o poeta: “Abril é o mais cruel dos meses...”. Acho que foi por isso...
Tudo certinho se aquele “18 de
abril” não estivesse tão parecido com um “1º de Abril”.
JEO, o Jeca Tatu,
o Zuzu, dos Pato...(19/04/97 – viva o
Índio!, que sobrou)
A CHAMADA PARA O CONCURSO
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