quarta-feira, 3 de abril de 2019

Farsa de Abril


Farsa de Abril

Abril é o mês das datas oficiais. Tem o dia 21 de Tiradentes, inauguração de Brasília, morte Tancredo Neves. E o ignorado 22 da Descoberta do Brasil. Sem contar o 19 do Índio (o tal que é melhor em velório). Mas o que se destacou em 1997, foi o 18 de abril: Dia Nacional do Livro Infantil. Não tiveram coragem de homenagear diretamente o José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), já que este foi o dia em que aquele malfadado taubateano veio ao mundo, não só para escrever livros para crianças e adultos, mas também explicar e defender o Brasil e as coisas brasileiras, inclusive sendo até preso por isso. Assim não é o dia de Monteiro Lobato, mas o dia do Livro Infantil. E hoje, considerado eugenista, por enquanto...
Mas vamos aos fatos.
Não sei quem do CAIC (Escola Municipal Professor Aristides Memória), escola municipal em Patos de Minas, da periferia, ferida, decidiu ou arquitetou - suponho- prestar uma homenagem à Martha Caixeta de Queiroz, ex-diretora deste estabelecimento na gestão do prefeito Jarbas Cambraia (1993-1996). Mais do que merecido, pois é público e notório que Martha Caixeta além de competente, é educada e muito querida em toda Patos de Minas. E certamente, se seu nome tivesse sido levado de fato e claramente às urnas, ou seja, fosse candidata, ela seria escolhida. E tudo estaria bem. Mas o método e a farsa montados para que assistíssemos perplexos, é que foram inacreditáveis numa escola.
Em fins de março, já existia um boato que no dia 18/04, haveria um evento relativo à data e para tanto, realizaram uma eleição para escolher um patrono ou patrona para a biblioteca já que a mesma ainda não tinha um nome. E além do mais, uma biblioteca sem nome, ninguém localiza. Não é mesmo?
“Vamos escolher o patrono de nossa Biblioteca?” - era assim o cabeçalho da cédula mimeografada a álcool, em que continham nomes de “autores muito importantes da Literatura Brasileira” em duas colunas. De um lado autores patenses – mesmo que a maioria não tenha nascido em Patos: Altino Caixeta, Agenor Gonzaga, Wilson Pereira, Clênio Pereira, Wando Porto, Autran Dourado e Ricardo Marques. De outro: Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Marcos Rei (sic), Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis.
Foi uma festa para os alunos das 5ªs. e 6ªs. séries  do ensino fundamental, e segundo a Dona Graça, que era a escrutinadora da coisa, houve um empate entre Cecilia Meireles e Monteiro Lobato. Este último foi o escolhido em todas as turmas por aclamação. Foi um belo e ruidoso espetáculo democrático. No entanto ao serem afixados os convites para a homenagem ao patrono, lemos que o patrono seria outro, seria uma patrona ou matrona: Martha Caixeta de Queiroz. Perguntei à supervisora Carmem, ela disse que a mais votada teria sido Martha.
Em qual eleição? Alguns alunos também perguntaram já que nem o nome dela constava na cédula de “autores muito importantes”. Eu já vi muita fraude eleitoral, mas empossar candidato que nem isso era, foi a primeira vez. Então? E numa escola? Mas a farsa não parou por aqui.
No dia do evento, aconteceu mais uma coisa no mínimo paradoxal.
Estávamos na biblioteca aguardando as autoridades e alguns convidados, que para variar, sempre chegaram atrasados, e uma professora, Lidamar, que não foi devidamente esclarecida da farsa e que estava com seus alunos de CDA (Curso Básico de Alfabetização) retirou da estante alguns LIVROS INFANTIS e distribuiu para os alunos que folheavam atentos, apesar de estarem trêmulos de frio, já que tinham que ostentar a camisa do uniforme mesmo naquele frio cortante de abril... No entanto a professora foi advertida pela bibliotecária que lhe disse que não poderiam ler, por que naquela hora não havia expediente. “Meninos, eu vi!”, a professora guardou os livros e os menininhos e as menininhas foram tremulamente para um cantinho e ficaram bem arrumadinhos como os livros da biblioteca.
A manhã estava fria e tudo correu certinho conforme o programa: a biografia da patrona (não consta que ela escreveu algum livro), a entronização da foto, discursos, homenagens artísticas, descerramento da placa e o lanche na administração.
Tudo certinho se não fosse a farsa eleitoral que mostraria de fato - conforme disse uma das pessoas que usaram a palavra - que os brasileiros leem, tanto é que escolheram um escritor que eles conhecem, sem ter sido ele o homenageado. Tudo oficialmente arrumadinho se não fosse a proibição de ler um livro infantil, no dia do Livro Infantil. Tudo certinho se não fosse o nosso silêncio cúmplice daquela farsa. Mas como disse o poeta: “Abril é o mais cruel dos meses...”. Acho que foi por isso...
Tudo certinho se aquele “18 de abril” não estivesse tão parecido com um “1º de Abril”.

JEO, o Jeca Tatu, o  Zuzu, dos Pato...(19/04/97 – viva o Índio!,  que sobrou)
A CHAMADA PARA O CONCURSO

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