CEM PONTOS CARDEAIS*
OU 100 PONTOS CARDEAIS
OU SEM PONTOS CARDEAIS...
MEUS PASSOS ESTÃO CONTADOS, MINHAS PALAVRAS MEDIDAS.
MEU SORRISO, É DESNECESSÁRIO. MEU OLHAR ESTÁ PARADO FIXO NO PONTO DO NADA. HÁ NO BARULHO, QUALQUER COISA DE MUDO, INSIGNIFICANTE. É O FIM! VINTE ANOS E NADA. NADA! SOU UM HOMEM VAZIO PARA A REALIDADE. CHEIO, COMPLETAMENTE SATURADO DE ACONTECIMENTOS. NÃO ENTENDO MAIS NADA! PROCUREI AMOR, E AMARAM-ME DOPADOS. PROCUREI PAZ E ENCONTREI-A, NUMA MOTO DE 350 CILINDRADAS COMPLETAMENTE LOUCA, MOVIDA A ÁCIDOS. PROCUREI COMPREENSÃO, E ENCONTREI-A EM UM BAR MAL-CHEIROSO E PODRE, FEDENDO A ERVA E ÁLCOOL. MALDITOS! SERES QUE SE PERDEM, UNS AOS OUTROS. EU AMO VOCÊS POR QUE ESTA AUTO-DESTRUIÇÃO? AMEM-SE, TAMBÉM. FRACOS! HÁ NA GRANDEZA DO HOMEM A PEQUENEZ ANIMAL. HÁ EM MIM TRISTEZA, MUITA TRISTEZA. EU NÃO DEVERIA SER TRISTE, POR SER HOMEM E NO ENTANTO EU SOU. ESTOU PERDIDO. PERDIDO POR PERDER MEUS AMIGOS, MEUS IRMÃOS. PERDER TUDO. SEUS OLHOS ESTÃO VERMELHOS, INEXPRESSIVOS LÁBIOS ENTREABERTOS, DESCOLORIDOS. SEUS CORPOS SEM VIDA. SUAS PALAVRAS INDECIFRÁVEIS. E CAMINHAM TODOS PARA A FELICIDADE PROVISÓRIA E DESTRUIÇÃO TOTAL. POR QUÊ FAZEM ISTO? POR QUÊ? POR QUÊ NÃO SÃO HOMENS CONSCIENTES E FORTES? FAZEM, SEM SABER QUE FAZEM, E ISTO É MOTIVO DE DIVERTIMENTO, NO DIA SEGUINTE. CHEGA! HÁ UM DIA EU QUE DEVEMOS PARAR E SALTAR DENTRO DA REALIDADE DA VIDA. E VENCÊ-LA. O TEMPO CHEGOU, A VIDA É CRUEL, MAS TEM QUE SER VIVIDA. A CARNE SERÁ EXPOSTA, AO SOL, AO VENTO, CHUVA E PALAVRA. HAVERÁ DORES HORRÍVEIS, E GRITOS NECESSÁRIOS. MAS TUDO LÚCIDO. E, A RECOMPENSA, QUEM TERÁ SERÃO SOMENTE OS HOMENS QUE LUTARAM PARA MORRER SÓBRIOS. A RECOMPENSA SERÃO TEUS IDEAIS REALIZADOS. EU, AINDA PERDIDO, SEGUIREI, SOB VOSSAS SOMBRAS E VOSSOS ANSEIOS DE HOMENS DERROTADOS E VAZIOS. E SEI, VOCÊS, ABANDONARÃO-ME. AMÉM.
JEO
* “Primeiro lugar no primeiro concurso literário de ‘O encontro’ – 1976”. Na verdade, foi um concurso de contos. Do informativo estudantil do Grêmio do Colégio Dom Cabral de Belo Horizonte. O prêmio foi uma calça jeans marca Lewis. Parece que este informativo só saiu este número. O pessoal era doido demais. O Grêmio também se existiu, acabou neste mesmo ano. Nesta época lembro-me de um colega, talvez o mais carismático de todos o Binha que morava perto do Maleta, e também da Tatiana Deolinda, da Eliane Nunes, do Heraldo, do Heron. Lembro-me do professor de História, mas eu não entendia nada de História e nem entendia o que ele falava e ele vivia nos mostrando um livro vermelho, que mais tarde constatei que não era o livro do Mao, mas o livro do Henri Pirenne... Lembro-me da professora de Geografia que me deixou de recuperação porque eu não tinha o livro. Ela era uma baixinha que devia ser muito peidorreira. O João Leite (que seria goleiro do Atlético também estudou lá nesta época, mas não era minha sala). Dos que não eram “malucos” só me recordo de mim, eu era maluco de nascença e procedência. Tinha umas duas meninas e uns dois meninos que também eram “caretas”, mas quase todo mundo bebia direitinho num bar-galeria de artes que tinha na rua da Bahia, depois no Bar do Posto Tostão...tinha também aquele sítio do Binha perto da Krupp que ficava antes de Betim. Era ali que o bagaço era moído e muito... Esqueci-me de tantos colegas, amigos e amigas maravilhosas que conviveram comigo durante três anos, mas não esqueci da idiota de Geografia...memórias, esquálidas memórias.
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