sábado, 30 de julho de 2022

TRAIÇÕES?

 

TRAIÇÕES?

 

Existe um livro - e que você não precisa saber qual é -, que inclusive se transformou num filme, que aliás, é muito melhor, mais belo e trágico, de onde se originou, cuja história é em torno de uma traição, ou adultério, se preferir.   E, óbvio em torno do amor.  Apesar que nem toda traição necessariamente tem o amor como causa, consequência ou desculpa. Pode ser o desejo, o tesão e mesmo a curiosidade ou a safadeza mesmo. Quem sabe a solidão? A solidão talvez a mais profunda seja da carência afetiva, de um corpo acariciando outro corpo? Vingança?  O egoísmo? De qualquer forma, será uma quebra irrevogável e imperdoável das sagradas juras de pé de altar ou mesmo a quebra talvez mais sagrada de um compromisso afetivo, sem metais nos dedos e assinaturas em papeis de cartório. E, mesmo se ninguém em termos da natureza pode de fato ser dono de alguém, em termos sociais, todos tornam-se propriedades de alguém e ninguém aceita, portanto, ser traído ou traída. Traição, dizem, não rima com perdão. Mas quase todos traem de alguma forma...Não queria tocar nesse assunto, mas essa traição, se passa durante a Segunda Guerra, como se isso fosse desculpa, e entre arqueólogos e na África, e o traidor, lia Heródoto e a traidora lia as epidermes das pinturas rupestres de uma caverna profunda como a alma daquelas criaturas.

 

Entretanto, raras vezes termina bem, como o velho “viveram felizes para sempre...”

 

Mas, eis alguns trechos dessa obra literária, como tira-gosto, ou mesmo como uma introdução antes de algum suor, saliva e outras coisas molhadas aromáticas e boas:

 

“- Você precisa se proteger da tristeza. A tristeza fica muito perto do ódio. Escute o que estou falando. É uma coisa que aprendi. Se você toma o veneno de outra pessoa, achando que pode curar essa pessoa partilhando o veneno, o que acontece é que o veneno fica dentro de você, guardado...”

 

Mas o trecho que gostaria realmente de te mandar é esse:

 

“- Há traições na guerra que são pirraças de crianças quando comparadas com nossas traições em tempos de paz. A nova amante se integra aos hábitos do outro. As coisas são despedaçadas, expostas a uma nova luz. Isto é feito com frases nervosas ou ternas, embora o coração seja um órgão de fogo.

- Uma história de amor não trata daqueles que perderam o coração, mas sim dos que encontram aquela criatura taciturna que, quando cruza o nosso caminho, não deixa mais que o corpo engane a ninguém e a nada  – de nada valem a sabedoria do sono ou o costume das mesuras sociais.  A pessoa consome a si mesma a ao seu passado.”

 

Pode ser que as traições sejam procura de esmolas oníricas, não sei...:

 

“- Quem  atira essas migalhas de comida que são uma tentação para a gente? Uma pessoa que a gente nunca imaginou. Um sonho. Depois, mais tarde, outra série de sonhos.”

 

E depois, apenas para citar pela última vez esse livro perturbador e de tão difícil leitura, e que num só trecho, mostra o início de um relacionamento na traição ou não e o seu fim?:

 

“- Se você me amar, eu não vou mentir. Se eu amar você, você não vai mentir.”

(...)

 

“- O que você mais detesta? – ele pergunta.

- Uma mentira. E você?

- Propriedade – responde ele. – Quando for embora, me esqueça.”

 

Mas o que interessa aqui são outras traições, sim as traições são sempre no plural. Trair não é como beber sozinho, tem de ter outra pessoa. Outras, inclusive as que foram traídas...Você traiu alguém, eu traí alguém. Nós traímos.  E não foi pela primeira vez e será a última?

 

Mas antes, conversamos, naquele bar de um arrabalde onde tinha um hangar ou coisa que o valha, tão falso quanto nós, às margens de uma lagoa suja, talvez menos que nós. E sempre teve um bar ou pelo menos algum tipo de álcool.  Como desculpa para o pórtico sem volta da traição?

 

- E eu falei sobre Malinche, talvez o símbolo americano da primeira traição desse lado do Atlântico.  Malinche e eu temos uma coisa em comum, eu pelo menos no nome. Malinche traiu seu povo e eu fui traído por um Anjo. Malinche prenunciou a morte e o Anjo a salvação.

 

E Malinche traiu por amor a Hernan Cortês ou por amor ao poder?  Ou por desejo àquele animal de armaduras que não eram mais reluzentes porque estavam sujas e fediam sangue em decomposição.  Sangue dos irmãos de Malinche, mas isso era apenas um detalhe, a traição não se apega a detalhes, mas a desejos. Mas ela não se importou...

E que diferença faz hoje, o motivo da traição?  Amor, desejo, cobiça, posse? E a lascívia? E por que não o pecado?  Que distância existe uma dessas coisas da outra?

 

E em outro livro, que também não revelarei o nome, porque não interessa e, é mais uma das bobagens escritas que leio e cito para misturar com a minha vida real ou quase, para tentar dar sentido ao “que não tem sentido, nem nunca terá”, como na música, que narra quando Cortês conheceu Malinche, a desatadora de nosso primeiro genocídio, e o desejo dele e depois dela que se transformou em a urdideira de traição insana:

 

“- ... e então ergue o olhar, a vê na porta e à contraluz a reconhece. Se chamava Malinali ou Malinche quando o cacique de Tabasco deu-a de presente a ele.

- Cortês lhe diz umas quantas palavras enquanto ela, imóvel, espera. Depois, sem um gesto, a moça desata os cabelos e a roupa. Um redemoinho de tecidos coloridos cai entre seus pés despidos e ele cala quando o corpo dela aparece e resplandece.”

 

 

Te contei essa história, não para falar da traição, pois ela ainda não existia ainda. Como aquele beijo, ainda, mas para iniciar uma conversa pois não sabia o que dizer. Depois eu sabia, e aprendemos juntos o que fazer. Aprendemos a traição na prática.  Apesar que não acreditávamos que aquilo era traição, era a vida. Não é?

 

Lembra?  Não vou te beijar. Juro, pensava que não.  Eu não sabia.

Mas o que estaria fazendo ali naquela noite, naquele lugar tão propicio?  E no meio do nada uma coruja, um corujinha de nada, talvez uma caburezinha, pousou no meio daquela rua deserta, no meio de nosso deserto.  Um mau augúrio ou uma previsão para que a noite fosse nossa, como foi!

 

Depois.  Sempre do depois.

 

Como se nos conhecêssemos desde a conquista do México em 1519, fomos felizes, felizes como os puros de coração e alma quando olham uma estrela cadente. Mas não éramos puros. 

E a felicidade nossa era tão fugaz quanto um beijo, um orgasmo e um carinho. E terminava sempre antes de começar. Como um olhar.

 

Mas antes nossas epidermes tão antípodas como nossas vidas se amalgamaram e se misturaram nos caleidoscópios daqueles espelhos impuros...em lugares impuros.

 

Mas sempre amanhecia. E eu anoiteci e fugi.

 

Aí me lembrei daquela música:

 

“De coração tão puro,

Eu mergulhei no escuro

E por mais que procure uma outra

Igual

Pra você serei sempre a mulher ideal.”

 

E será mesmo.

Mas não é minha.

Não é de ninguém.

 

E quem é propriedade de quem?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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