Rafael Sanzio da Urbino, pintor
cinco séculos de sua morte*
No dia 6 de abril de 2020 serão lembrados em todo o
mundo ilustrado ou mais ou menos ilustrado, os 500 anos da morte do pintor e
arquiteto italiano Rafael Sanzio da
Urbino (1483-1520).
Em Urbino onde nasceu, teve inicio a uma espécie de
peregrinação artística, onde deixou suas obras-primas quando passou por Perugia
(onde foi discípulo de Perugino), Florença até estabelecer-se em Roma, onde
morre aos 37 anos, no dia 6 de abril, o mesmo de seu nascimento, em 1520. Uma
Sexta-feira da Paixão.
Rafael, ao contrário dos outros dois geniais
pintores italianos, expoentes máximos da Alta Renascença italiana era hétero,
como nos diz Kenneth Clark, “Miguel Ângelo não se interessava pelo sexo oposto;
Leonardo só via as mulheres como mecanismos reprodutores. Mas Rafael...adorava
as garotas”. Assim, Leonardo da Vinci
(1452-1519) e Michelangelo Buonarroti (1475-1564), obviamente, naquela época tiveram
que viver dentro de algum tipo de armário, os de Leonardo, de tecidos de cores esfuziantes
e os de Michelangelo de uma das matérias-primas de algumas de suas principais
obras, o mármore. Esta questão de gênero não vem ao caso, mas não deixa de ser
importante. Aliás, apenas para ressaltar, dentre algumas “garotas” a grande
musa e modelo de Rafael, foi uma mulher simples e bela, a padeira, Margarita
Luti,
eternizada principalmente na obra La
Fornarina (1518-20).
Estes três gigantes do renascimento italiano, e
outras dezenas de artistas, foram inicialmente em termos biográficos
imortalizados por Giorgio Vasari no livro, Vidas dos Artistas, publicado
em 1550.
Todas as grandes pinturas e as obras arquitetônicas
de Rafael foram criadas num período de vinte anos e a maioria das obras foram
executadas em óleo sobre madeira, tela ou afrescos em murais. Algumas foram
assinadas.
Foram dezenas de madonas e murais e retratos para
particulares, como o Retrato de
Baldassare Castiglione (1514-15) e afrescos para igrejas, principalmente do
Vaticano a partir de 1508 quando chega a Roma. Sua última obra foi A Transfiguração (1520).
Entretanto é no escritório papal do Vaticano, um
anexo à Capela Sistina, Stanza della Segnatura que ele executará em afresco algumas
de suas obras magistrais entre 1509-11: Disputa
do Santo Sacramento, Parnaso, A Escola
de Atenas e Justiça representando
todo o universo e os dilemas dos homens e do renascimento: a religião, a
poesia, a arte e a ciência e o direito.
Destes o afresco mais conhecido é A Escola de Atenas, mas é no mural
Parnaso é que existe uma representação curiosa e enigmática. Nele além da
representação das nove musas inspiradoras das artes e das ciências que lá
habitam, são representados grandes escritores e poetas do passado, dentre eles,
Homero, Dante, Virgílio, Boccaccio, Horácio e Safo.
Assim, porque não dizer que Rafael, além de pintar
as mulheres e tendo elas por modelos, e não homens como Leonardo e Michelangelo
em seus afrescos, ao retratar Safo em meio a tantos homens ilustres,
distinguiu-se como o mais feminista dos renascentistas tardios. Além disso, em
meio a dezenas de personagens da Stanza
della Segnatura é a única identificada com uma cartela com o seu nome: Sappho.
Não que Safo de Lesbos (c.630-570 a.C.), poeta,
tecelã e musicista, não tivesse sido reconhecida e venerada antes, sobretudo
por sua poesia ardente e profunda e sua singularidade e o amor que despertava
entre as mulheres –em particular -, e homens da antiguidade, principalmente.
Desde os mais remotos escritos ela foi citada por
inúmeros homens de letras, só para citar alguns, Heródoto, Estrabão,
Aristóteles, Platão, Pausânias, Ovídio e Horácio, que no afresco, ocupa o mesmo
lugar que Safo só que do lado direito. E um detalhe para quem tiver curiosidade
e imaginação e que talvez seja um lance pouco comum em Rafael, observe
atentamente o cabeçote da lira da braccio que ela segura com a mão direita e
onde está o seu dedo mindinho...
José Eduardo de Oliveira – licenciado em Historia pela
UFOP.
* Publicado na Revista
Diga, Patos de Minas, Edição I, ano 01, Março 2020 – aqui com uma ou duas
alterações.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA - BECK, James. Raphael:The
Stanza della Segnatura; CLARK, Kenneth. Civilização; GAYFORD, Martin. Michelangelo; uma vida épica; MÜHLBERGER, Richard. O que faz um Rafael um Rafael?; PIGNATARI,
Décio. (Org.) 31 poetas, 214 poemas; do Rigveda e Safo a Apollinaire.; SAFO. Fragmentos
completos; SAFO DE LESBOS.
Hino
a Afrodite e outros poemas.
Org. Giuliana Ragusa.;
THOENES, Christof. Raphael; VASARI,
Giorgio. Rafael de Urbino, pintor e arquiteto. In: Vidas dos Artistas.
E a viagem digital, Uma passeggiata in mostra: https://www.youtube.com/watch?v=F3JDrfGfGUk&list=WL&index=22&t=8s.
Safo – detalhe. In: Stanza
della Segnatura – Parnaso (1509-10)
Stanza della Segnatura – Parnaso (1509-10)
La Fornarina (1518-20
Stanza della Segnatura – Parnaso (1509-10)
La Fornarina (1518-20
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