quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Como era o Aleijadinho? Retrato falado ou retrato forjado?

 

Como era o Aleijadinho? Retrato falado ou retrato forjado?

Notícias Jornal de Patos terça-feira, agosto 04, 2020

Por José Eduardo de Oliveira

Para Marilia que ficou sem Dirceu e sem um rosto, mas não perdeu nada.

 


Aleijadinho - Profeta Daniel em pedra sabão
Note se a base ou pedestal que não é em coluna
Congonhas/ 2013 - Foto: José Eduardo de Oliveira

 

Depois de ler aqui, no Jornal de Patos (24/07/2020), a matéria “Aleijadinho, de novo.”, uma amiga fez a seguinte indagação: “Uma curiosidade. Você sabe se alguém neste tempo todo fez o retrato do Aleijadinho?”.

Antes de tentar uma resposta mais ou menos plausível para essa interessante e relevante pergunta, quero dizer que essa é mais uma das questões que envolvem de forma apaixonada e complexa a biografia do escultor e arquiteto, Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho, nascido em Vila Rica (atual Ouro Preto) e lá sepultado em 18 de novembro de 1814.

As outras questões que escrevemos naquela matéria são: quais as obras são verdadeiramente suas? As datas de seu nascimento e morte, principalmente a primeira e qual ou quais foram as suas doenças que lhe valeram o apelido de Aleijadinho? E esta: como era o Aleijadinho, qual a sua fisionomia?

Para mim, mesmo a despeito de centenas de obras a seu respeito, mesmo muitas sendo estudos sérios e profundos e que considero válidos e pertinentes em se tratando da história de artistas do passado. Entretanto, exceto a data de seu sepultamento, todas não passam de suposições, teses e algumas especulações e depois de duzentos anos de sua morte, ainda permanecem envoltas em espessa corrubiana. Aquela bruma, uma neblina molhada, fria e doce, que em sua época e nos dias atuais ainda envolvem sua História, as pessoas, os campanários das igrejas, os espectrais e magníficos casarios e toda a vetusta Vila Rica boa parte do ano, sobretudo nos meses de junho e julho.

Penetremos nessa corrubiana...

Em 1858, seria publicado nos números 169 e 170, de 19 e 23 de agosto, no jornal Correio Oficial de Minas de Ouro Preto a primeira biografia do Aleijadinho, “Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho”, de autoria do ouro-pretano, Rodrigo José Ferreira Brêtas (1814-1866), que foi deputado provincial, professor e advogado, mas se tornaria célebre, exatamente por essa polêmica biografia.

Brêtas escreveu, 44 anos depois da morte do escultor e baseou-se em diversas fontes e depoimentos, e o mais importante deles foi o colhido da octogenária nora de Aleijadinho, Joana Lopes. É dela, portanto o primeiro retrato falado que conhecemos:

“Antônio Francisco era pardo escuro, tinha voz forte, a fala arrebatada, e o gênio agastado: a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e esta volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto, a testa larga, o nariz regular e algum tanto pontiagudo, os beiços grossos, as orelhas grandes, e o pescoço curto.” E depois de acometido por moléstias, a partir de 1777, “As pálpebras inflamaram-se, e permanecendo neste estado, ofereciam à vista a sua parte interior; perdeu quase todos os dentes, e a boca entortou-se, como sucede frequentemente ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco; assim, o olhar do infeliz adquiriu certa expressão sinistra e de ferocidade...” (BRÊTAS, 1951, p. 23-4).

Tendo por base este retrato falado, provavelmente descrito pela nora do biografado, o escultor, Luciomar Sebastião de Jesus, de Congonhas-MG, moldou em argila uma herma que foi estampada no livro “Doenças e mistérios do Aleijadinho” de Geraldo Barroso de Carvalho em 2005, um molde falado realmente convincente. (CARVALHO, 2005, p. 263):



Há algum tempo, o pintor e escultor Elias Layon, de Mariana-MG., também, reconstituiu em esculturas uma em cedro e a outra em pedra sabão e em pintura como seria o Aleijadinho. E elas possuem alguma coisa de um retrato que se tornou oficial, que em breve veremos, como o sobretudo e uma das mãos ocultas. Estas obras se encontram expostas para visitação pública na Igreja São Francisco de Assis em Ouro Preto-MG. (https://aleijadinho.com/biografia-do-aleijadinho/):






Entretanto, antes desses dois, inúmeros artistas também dentro de suas técnicas procuraram reconstituir e retratar como seria a imagem do tão importante e polêmico escultor.

Das representações mais conhecidas, uma delas é a do pintor e desenhista chileno, radicado no Brasil, Henrique Bernardelli (Valparaiso, 1857-Rio de Janeiro, 1937), em que nos mostra o escultor, candidamente trabalhando, no interior da Igreja São Francisco de Assis em Ouro Preto, entre o clero e a nobreza (Aleijadinho em Vila Rica, 1898-1904).


https://pt.wikipedia.org/wiki/Aleijadinho#/media/Ficheiro:H_Bernardelli_-_O_Aleijadinho_em_Vila_Rica.jpg


Outra representação das mais populares foi a do desenhista e caricaturista Belmonte (1897-1947), que segundo Geraldo Guimarães Gama, seria “a representação de Antônio Francisco Lisboa quando robusto e alegre, feito segundo as indicações do historiador Ferreira Brêtas, em publicação de 1858. O artista Belmonte atuava na imprensa paulista na década de 1940.”, que de certa forma se tornaria quase que um retrato oficial do Aleijadinho, antes do outro que falaremos depois. (GAMA, 2004, p. 82-3):



No ano em que se comemoravam o Bicentenário da morte de Aleijadinho, como acontece de tempos em tempos, surgiu lá em Ouro Preto mais uma tentativa de estabelecer um novo rosto para o escultor.

Antes de prosseguir, farei uma ligeira digressão.

O mesmo aconteceu e acontece sempre com a tentativa de estabelecer um perfil para o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), que desde o século XIX, tentam arrumar uma imagem para ele, um rosto, uma face para o herói, aliás, também mineiro. São tantas imagens, com barba, sem barba, ele acabou figurando em uma cédula de CR$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros). Típico, não é? Em plena Ditadura Militar. E os 5.000, logo, logo, receberiam um carimbo de rebaixamento para “5 cruzeiros novos”! Assim é a vida!

Ele que desde 1965, já era Patrono da Nação Brasileira e da Polícia Militar, virou uma nota, com o rosto antigo de barba, que depois teria outro, imberbe. E daí? Até o Lobo Guará será uma nota de 200 paus, e talvez seja o que restará dele daqui a alguns dias...


Cinco mil cruzeiros / Foto: José Eduardo de Oliveira

 


Outra imagem de Tiradentes, de José Wasth
Rodrigues (1940), que se tonaria "oficial" / Divulgação

 

E voltando ao nosso assunto, em 2014, uma nova “descoberta”.

Teria o Aleijadinho sido retratado pelo também genial pintor marianense, Manoel da Costa Ataíde (1762-1830)? Quem sabe?

Vamos primeiramente aos fatos. Sempre os fatos.

De acordo com o premiadíssimo jornalista mineiro, Gustavo Werneck, na matéria, “Aleijadinho por mestre Ataíde?”, publicada no Jornal Estado de Minas, do dia 05/11/2014, portanto treze dias antes do dia 18, data do Bicentenário da morte do Aleijadinho, “No mês de homenagens ao bicentenário de morte de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho uma polêmica se soma à biografia do escultor. No quadro ´Jesus cai carregando a cruz´, o pintor Manuel da Costa Ataíde teria dado a um soldado que aparece no canto esquerdo da tela o rosto de Aleijadinho (no detalhe). Quem afirma é o restaurador e pesquisador José Efigênio Pinto Coelho (também de Ouro preto), com base em descrição do tipo físico do entalhador mineiro feita em livro de 1858. A possível descoberta de uma nova face do artista barroco divide opinião de especialistas.”.


 


Homem vestido como soldado romano, destaque, em quadro de Ataíde, seria a retratação do gênio do barroco, segundo, José Efigênio Pinto Coelho.

E há também um porém. Segundo, a pesquisadora e restauradora, Lélia Coelho Frota, esta tela, “Jesus cai carregando a cruz”, “Embora tradicionalmente atribuídos ao Ataíde, os dois Passos que se encontram no Museu da Inconfidência não parecem ser de sua autoria. Encontra-se ausente dos mesmos o desenho culto e intencionalmente deformador da figura em que o mestre marianense excedia, e a dramaticidade expressiva patente em tantos dos seus personagens não é em absoluto a retratada nesta figura de Cristo, que nem por isso deixa de ser tocante ao transmitir um rude sofrimento.” (FROTA, 1982, 138).

O que sabemos é que Ataíde e Aleijadinho foram contemporâneos e trabalharam nos mesmos canteiros de obras religiosas, se não simultaneamente, pelo menos, Aleijadinho trabalhou primeiro.

Em Congonhas, por exemplo, Aleijadinho e sua oficina, entalharam em cedro, as esculturas dos Passos da Paixão, entre 1796 e 1799. “Entretanto, só a partir de 1808 tem efetivamente início a policromia dos Passos, com a pintura das imagens da Ceia por Manoel da Costa Athaide.”, que também encarnaria (pintaria) imagens dos Passos do Passo do Horto e da Prisão, em 1818 e 1819. (OLIVEIRA, 1984, p. 27-8).

Sem contar, que, apesar de não haver documentação comprobatória para todos os trabalhos executados, tanto por um quanto por outro, a Ataíde são atribuídos vários serviços de pintura, na Igreja São Francisco de Assis de Ouro Preto, onde Aleijadinho teria executado quase tudo, desde a planta, esculturas internas em cedro e esteatita (pedra sabão) e o frontispício também em esteatita. (CAMPOS, 2005, 22-28; VASCONCELLOS, 1979, 137-138)

E por último, o mais polêmico de todos os retratos do Aleijadinho.

O retrato falado ou retrato forjado?

Quando a esmola é muita até o santo desconfia. Mas vamos aos fatos novamente.

Em 1967, Tiradentes, virou “Patrono da Nação Brasileira e da Polícia Militar”, e em 1973, Aleijadinho iria virar, “Patrono da Arte no Brasil”. Até aqui tudo bem, eu mesmo assino embaixo. Mas o problema é a farsa ou fraude?

Mas vamos aos fatos de novo.

Vamos começar pelo fim:

“LEI Nº 5.984, DE 12 DE DEZEMBRO DE 1973.

Declara Antônio Francisco Lisboa - "O Aleijadinho" - Patrono da Arte no Brasil.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,

Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º É declarado Antônio Francisco Lisboa - "O Aleijadinho" - Patrono da Arte no Brasil.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 12 de dezembro de 1973; 152º da Independência e 85º da República. EMÍLIO G. MÉDICI

Jarbas G. Passarinho”.

Sem objeções, eu mesmo assinaria embaixo novamente. Mas o problema é que a farsa ou fraude não é bem essa, o homenageado merece, o problema foi encomendarem uma face, uma aparência, um rosto, quase um corpo todo, um perfil, como diria hoje, para o Aleijadinho. Isso mesmo!

 

A questão foi uma lei anterior, da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais do ano anterior, de 1972, “que assim dispõe: Art. 1º. – Fica reconhecido, como efígie oficial de Antônio Francisco Lisboa ´O Aleijadinho´, o retrato miniatura pintado a óleo por Euclásio Penna Ventura, que se encontra depositado ao Arquivo Público Mineiro...”. Para adiantar, hoje essa enigmática obra, não voltou para a Sala dos Ex-votos, mas se encontra no Museu de Congonhas cidade originária da pintura. Antes de continuar vamos ao retrato, vamos conhecer a verdadeira face de nosso insigne artista:

 


https://www.facebook.com/maspmuseu/photos/a-pequena-pintura-de-eucl%C3%A1sio-penna-ventura-presente-na-exposi%C3%A7%C3%A3o-imagens-do-ale/10155638804011025/

 

Mas o verdadeiro problema parece, e que ninguém ligou é que essa pintura, um óleo sobre pergaminho medindo 22 cm. de largura por 27,7 cm. de altura, fosse apenas um ex-voto, da Sala dos Milagres, um dos anexos do Santuário Senhor Bom Jesus do Matosinhos, com centenas de ex-votos, onde além da Basílica se encontram os Passos e os Profetas esculpidos por Aleijadinho. E tudo começa em 1916, quando um comerciante, compra o ex-voto, depois vende para outro etc., até ser depositado no Museu Mineiro e acaba caindo nas graças de um historiador e artista russo, Miguel Theodorovitch Chquiloff, que em 1969, dá como autêntica e verídica representação do Aleijadinho, inclusive autenticada pelo perito e historiador da arte, Pietro Maria Bardi (1900-1999) e vira o “retrato oficial do Aleijadinho.” (MIRANDA, 2014, 99-104) E os deputados mineiros sacramentaram a iconoclastia. Amém.

 

E acho melhor não prosseguir. Quando vejo, que o artista, que foi perfeccionista em retratar o escultor, foi incapaz de retratar alguma de suas esculturas e ao fundo simulou o que seria um de seus profetas, que mais parece uma figura mitológica grega com uma cornucópia aos pés, cuja base é uma coluna que não existe nos profetas originais. E parece que o retrato oficial nem mãos possui... E o mais execrável, o mestre Antônio Francisco, que tinha “o cabelo preto e anelado”, teve os cabelos “esticados”, para aparecer bem na fita?

 

Eu só queria responder, para minha amiga que existem inúmeras representações de como era o Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, um escultor pardo de voz arrebatada e um talento de gênio. E só.

 

Assim como o livro, “Aleijadinho e o aeroplano” de Guiomar de Grammont, um grande livro, diga-se de passagem, não é uma biografia de Aleijadinho, como ela mesma afirma e a biografia de Brêtas, como afirma a mesma G.G., não é uma obra de biografia, como entendemos hoje, mas uma ficção criada sobre um mito criado que foi o Aleijadinho, às vezes penso que todo esse monte de livros sobre ele não foi mais que um comércio de “ouro de tolo”, ou seja, um ouro falso, uma pirita literária infindável. E eu ao escrever isso, nada mais faço que “engolir corda” ou “entrar na onda”, como diriam os estudantes lá de Ouro Preto em minha época...

 

Mas o problema é que a coisa não é bem assim. Aquelas obras não foram criadas por computação gráfica, mãos pardas e possivelmente disformes fizeram aquelas obras primas por preços previamente determinados ainda que apenas para garantir “o pão nosso de cada dia”, como atestam muitos documentos. Antes da fotografia, os retratos dos grandes artistas eram coisas raras, e alguns autorretratos ainda são confiáveis como os de Rafael ou Rembrandt e claro, os do trágico Van Gogh. Mas dos nossos artistas, sobretudo os mais afastados de nosso tempo, brasileiros e pardos então, nem pensar. Primeiro é que os oficiais mecânicos, como eram rotulados os escultores e qualquer outra categoria que trabalhava com as mãos, mesmo reconhecidos como profissionais competentes, necessários e requisitados, não tinham um estatuto social que pudesse ser invejável na sociedade do antigo regime luso-brasileiro. Inclusive, Da Vinci e Leonardo, ou mesmo o irascível Michelangelo, podem ter frequentado as cortes de seus mecenas, mas não passavam de artistas que eram necessários e se contratava por um preço negociado e firmado em contrato. E só.

 


À esquerda da Basílica do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos de
Congonhas, Sala dos Milagres, onde são depositados os ex-votos por
graças recebidas e de onde provavelmente tenha sido originada
a imagem oficial do Aleijadinho/2013 – Foto: José Eduardo de Oliveira

 

REFERÊNCIAS

 

ALEIJADINHO Patrono da arte no Brasil; Lei, projetos e pareceres apresentados pelo deputado Paulino Cícero de Vasconcelos. Brasília, 1977.

 

BRÊTAS, Rodrigo José Ferreira. Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho. Rio de Janeiro: Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1951.

 

CAMPOS, Adalgisa Arantes. (Org.) Manoel da Costa Ataíde; aspectos históricos, estilísticos, iconográficos e técnicos. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 2005.

 

CARVALHO, Geraldo Barroso. Doenças e mistérios do Aleijadinho. São Paulo: Lemos Editorial, 2005. [1998]

 

FROTA, Lélia Coelho. Ataíde. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

 

FROTA, Lélia Coelho. Promessa e Milagre no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos Congonhas do Campo Minas Gerais. Rio de Janeiro: Pró-memória, 1979.

 

GAMA, Geraldo Guimarães da. Os mistérios na vida do Aleijadinho. Belo Horizonte: Edições CLA, 2004.

 

GRAMMONT, Guiomar de. Aleijadinho e o aeroplano; o paraíso barroco e a construção do herói colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

 

LEMOS, Paulo (Org.). Aleijadinho 200 anos. Ouro Preto: Legrafar, 2014.

 

MIRANDA, Marcos Paulo de Souza. O Aleijadinho revelado; Estudos Históricos sobre Antônio Francisco Lisboa. Belo Horizonte: Fino Traço, 2014.

 

OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. Aleijadinho; passos e profetas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984.

 

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

 

VASCONCELLOS, Sylvio de. Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1979.

 

WERNECK, Gustavo. Aleijadinho por mestre Ataíde? In: Jornal Estado de Minas. 05/11/2014

 

José Eduardo de Oliveira é licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. É autor de três livros, sendo o último "Bento Rodrigues: Trajetória e Tragédia de Um Distrito do Ouro", lançado em 2018.

https://www.jornaldepatos.com.br/2020/08/como-era-o-aleijadinho-retrato-falado.html

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

29 DE AGOSTO DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL

 

29 DE AGOSTO DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL – COM POST SCRIPTUM: A INVISIBILIDADE DE ANNA FREUD

José Eduardo de Oliveira Jornal de Patos terça-feira, agosto 29, 2024*

Por José Eduardo de Oliveira

 

Para ARAMPX


Imagem: Microsoft Bing

 

 

Alguém acreditaria que no passado quase foi necessário que se criasse o “O DIA DA VISIBILIDADE DO CRISTÃO E DA CRISTÔ? É isso mesmo! Nos tempos do Império Romano, ser cristão ou cristã era extremamente fatal, mortal de verdade. Os romanos, em todo o seu imenso e genocida império, perseguiam, crucificavam e ou, atiravam aos leões e aos gladiadores nas arenas todos que fossem cristãos e cristãs, apenas para se divertirem, e claro, externar seu “fundamentalismo religioso”, seus ódios, suas xenofobias e suas taras.

Foi preciso, não por benevolência ou religiosidade, que o imperador Constantino proclamasse em 13 de junho de 313, o Edito de Milão, que determinava a liberdade religiosa em todo o Império Romano.

E, por incrível que pareça, 1710 anos depois, existe um DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL. Ou seja, lésbicas, bissexuais e todos que não são heteros, cisnormativos ou “romanos”, apesar que seres humanos como todos eles, ainda são obrigados, como os primeiros cristãos e cristãs, de se esconderem em “catacumbas” ou armários de suas existências invisíveis.

Assim, em 29 de agosto de 1996, depois de vários embates e combates, inclusive nacionais e internacionais, durante a realização do I SENALE- Seminário Nacional de Lésbicas, no Rio de Janeiro, ficou deliberado pelo coletivo que o dia 29 de agosto, doravante seria o DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE LÉSBICA.

Entretanto, somente em 2014, durante o VIII SENALE, realizado em Porto Alegre é que a sigla mudaria para SENASLEBI-Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais e assim seria oficializado o 29 de agosto como o DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL.

 

E HOJE, 54 ANOS DEPOIS DE STONEWALL E 40 ANOS DEPOIS DE FERRO'S BAR?

 

As lésbicas e bissexuais mais céticas, pessimistas e lutando para que tudo se resolva rapidamente, acham que poucas coisas mudaram e tudo que enxergam é o patriarcalismo cada vez mais chauvinista, a polícia e os políticos, estão cada vez mais truculentos, sobretudo o governo que foi substituído em 2023, onde houve um crescimento avassalador da lesbofobia, homofobia, transfobia, misoginia e do racismo. Entretanto, novos horizontes despontam, mas não serão desvelados sem muita luta.

É claro, houve alguns avanços, ainda que benéficos, mas lamentavelmente apenas nas questões legais. Pois as mudanças nas mentalidades, nos costumes, sobretudo as que ameaçam as velhas sociedades cisnormativas, heteronormativas e binárias, demoram. E como demoram.

O que foi mudado, ou melhor, conquistado inclusive com sangue e muitas vidas saudáveis, não é pouca coisa.

Por exemplo, aqui no Brasil, o Conselho Federal de Medicina retira a homossexualidade de sua lista de doenças (1985); A OMS (Organização Mundial da Saúde) retira a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais (1990); No Piauí, Kátia Tapeti é eleita a primeira vereadora trans na história da política brasileira (1990); As primeiras Paradas do Orgulho LGBT são realizadas em Curitiba e no Rio (1995); A cidade de São Paulo sedia sua primeira Parada LGBT. Em 2006, a passeata paulistana entra para o Guinness Book como o maior evento do gênero (1997); O governo de São Paulo promulga a Lei 10.948 que penaliza práticas discriminatórias em razão da orientação sexual e identidade de gênero (2001); O processo de redesignação sexual, a chamada cirurgia de “mudança de sexo” do fenótipo masculino para o feminino é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina. Em 2008, passa a ser oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) (2002); STF (Supremo Tribunal Federal) reconhece a união homoafetiva, um marco na luta pelos direitos LGBT, e várias uniões já foram realizadas (2011), e me lembrei de uma, se não foi a primeira foi talvez a mais célebre, o casamento da cantora Daniela Mercury com a jornalista Malu Verçosa em dezembro de 2013; STF decide que transexuais e transgêneros podem mudar seus nomes de registro civil sem necessidade de cirurgia (2018); STF enquadra a homofobia e a transfobia na lei de crimes de racismo até que o Congresso crie legislação própria sobre o tema (2019); STF declara inconstitucionais as normas que proíbem gays de doar sangue (2020). (Dhiego Maia - Folha de S. Paulo, 16.05.2020 - https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/ha-30-anos-oms-tirou-homossexualidade-de-catalogo-de-disturbios.shtml).

Existem também as questões das lutas, urgentes, constantes, mas também difíceis que é também a da diversidade das lésbicas e/ou feministas. As feministas héteros não entram em acordo com as feministas lésbicas ambas brancas; que por sua vez se digladiam com as feministas e lésbicas negras; sem contar os conflitos entres as lésbicas e as bissexuais. E as antigas questões de classes, as ricas contra as pobres. E outros mais complicados, todas elas contra os gays, trans, travestis e infelizmente um etc.

Estas e outras questões foram incisivamente demonstradas no pequeno grande livro lançado recentemente e que merece ser lido, relido e discutido, estou me referindo ao livro de Dedê Fatumma, “Lesbiandade”, lançado pelo selo, Femininos Plurais, de coordenação de Djamila Ribeiro.

 


E apesar dos avanços, Dedê Fatumma, nos alerta, sobre a questão de outras invisibilidades:

 

O feminicídio no Brasil tem repercutido na sociedade como resultado de esforços coletivos, envolvendo os movimentos sociais feministas comprometidos com o projeto de vida das mulheres. Todavia, há de se problematizar que, instituições públicas na LGBTQIA+fobia não assumem um empenho que trate do lesbocídio, de acordo com o dossiê “Lesbocídio: As histórias que ninguém conta”, [...]

O dossiê foi elaborado [...] e explicitou as múltiplas violências e vulnerabilidade que acarretaram no lesbocídio e suicídio de sapatonas, lésbicas e bissexuais no Brasil. De modo geral, o dossiê surge como um material político para que a trajetória e a memória de resistências lésbicas não sejam colocadas à margem.A metodologia interseccional é imprescindível para analisar os fatores desses assassinatos, cuja matriz de opressão, seja de gênero, classe, raça, etnia, sexualidade, território, dentre outras, elenca categorias que atuam de forma conjunta nas trajetórias de vida destas mulheres. [FATUMMA, p. 165-6]

 

Dedê Fatumma, defende com unhas e dentes a sua visibilidade, a visibilidade de todas lésbicas e bissexuais, dentro do princípio básico para ela e para todas do “meu corpo, meu território”,

 

Sair do armário é sair de mãos dadas com a minha namorada na rua, é assumir que o amor fala outras línguas e que a minha orientação sexual precisa ser respeitada: é ter o direito de existir sem ser atropelada na próxima esquina, é dizer que a cisheterossexualidade não se arranja para o manejo e o controle dos meus afetos sociais e sexuais. A realidade é que nossos corpos sempre estiveram em cena, protagonizando notas subversivas de desejos sexuais, contra a colonização, causando vertigem nas estruturas empoeiradas do fundamentalismo cristão, que ambiciona secar o poder do líquido que carregamos em nossas entranhas como fonte de vida. [FATUMMA , p. 36]

 

Paradoxos humanos, ontem os cristãos eram perseguidos e martirizados, hoje, as pessoas LGBTQIA+, passam pela mesma situação, e o pior, pelos cristãos e cristãs matrizes e outros, que sob o manto de pureza e defesa de Deus, Pátria e Famílias ocultam torturadores, inquisidores e assassinos, só que estamos em pleno século XXI, e não no século IV, a caminho da Idade Média, a Idade das Trevas...

 

VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL: DILEMAS

 

Todos sabem que biológico e historicamente, o ser humano binário sempre existiu, mas não só ele, pois outros gêneros sempre conviveram nesta face hostil desse Planeta mais hostil ainda. Não se trata aqui de dizer que os heterossexuais são normais e os homossexuais são aberrações. A questão é como isso é determinado. Ninguém conseguiu explicar ainda. As explicações são culturais e eivadas de preconceitos. Ou não? E para citar alguns exemplos, que isso aqui é apenas um artigo para um Jornal eletrônico. E vou omitir o homossexualismo masculino, ou deixar para outra hora. Porque as questões relacionadas às pessoas LGBTQIA+: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais e outras identidades de gênero, são questões humanas e, portanto eternas.

 

Por exemplo, quando se fala em LÉSBICA, e alguém quer saber a origem do termo, desse substantivo, adjetivados milhares de vezes, imediatamente nos remetemos à poetisa, musicista e tecelã, Safo de Lesbos, cuja vida é tão cheia de mistérios quanto sua morte. Teria nascido no século VII ou VI a.C.? Sabemos apenas que sobraram fragmentos de seus escritos e vários testemunhos antigos de sua existência e desde os mais remotos escritos ela foi citada por inúmeros homens de letras do passado, só para citar alguns, Heródoto, Estrabão, Aristóteles, Platão, Pausânias, Ovídio e Horácio. Foi casada? Teve filhos? Foi bissexual? Talvez nada disso interessa neste texto, pois ela foi, é e sempre será lembrada como a ardente poeta que amava mulheres. A filha da Ilha de Lesbos, a lésbica. Então toda mulher que ama outra mulher é lésbica. E ninguém se acostuma com essa verdade.

 


Representação de Safo em detalhe da obra de Rafael Sanzio – Stanza dela Sgnatura – Parnaso [1509-10]

 

E as BISSEXUAIS? Que muitas vezes foram rejeitadas não só pelas lésbicas, mas pelas feministas e todo o guarda-chuva de gêneros.

 

Em recente publicação [2022] sobre a bissexualidade, aliás, raras se comparadas com as publicações sobre as lésbicas e outros gêneros, o livro, “Invisibilidade: cultura, ciência e a História Secreta da Bissexualidade”, de Julia Shaw, pode tornar-se uma leitura importante como ponto de partida para novos questionamentos.


Inicialmente, ela nos diz que,

A bissexualidade é o potencial para se atrair, romanticamente e/ou sexualmente, por pessoas de mais de um gênero, não necessariamente ao mesmo tempo, não necessariamente do mesmo jeito, e não necessariamente ao mesmo grau. [...] [SHAW, p. 30]

Então, eu uso “bissexual”, ou “bi” como um termo guarda-chuva que inclui aqueles que se identificam como bissexuais, pansexuais, plurisssexuais, polissexuais, sexualmente fluidos, bi-curiosos e em questionamentos. Às vezes eu uso o termo “comportamento bissexual” para descrever pessoas que têm relações sexuais ou românticas com pessoas de vários gêneros, mas não se identificam como bissexuais ou cuja identidade sexual é desconhecida. [SHAW, p. 30]

Bissexualidade não é uma moda, ou algo “chic” ou “novo”, em vez disso, esse rótulo de sexualidade parece ser mais acessível, potencializador e positivo atualmente do que já foi no passado. [SHAW, p. 35]

 

E a história da bissexualidade dentro da História da Sexualidade?

 

Em fins do século XIX, Sigmund Freud (1859-1939), tendo por base diversos pesquisadores, dentre eles, Richard von Krafft-Ebing e Havelock Hellis, além de escrever várias cartas sobre a bissexualidade, escreve também ensaios sobre o tema, entretanto, suas conclusões, hoje são tidas apenas como importantes estudos precursores sobre o assunto. (FREUD, 1972; 1996; 2018)

 

Julia Shaw nos aponta autores com duas versões sobre a História da Bissexualidade. A primeira, como ocorre com a homossexualidade em geral, a bissexualidade “é um comportamento conhecido na Grécia e Roma antigas”. Outras versões apontam que ela foi “inventada” no início dos anos de 1800, ou em meados do século XIX. Outros procuram diferenciar as História dependendo de quando surgiram os atos e ou as identidades. [p. 44-5]

 

Para Julia Shaw, “Essa discussão de atos, versus identidades tem sido uma característica nos debates sobre história queer há muito tempo.” [p.45]

 

 

 

Nesse contexto e aproveitando um artigo anterior, para quase encerrar. Ou plagiar a mim mesmo de novo:

 

E A VISIBILIDADE?

 

Assim as pessoas lésbicas ou bissexuais, quando descobrem que são, então têm que viver sem a aceitação dos companheiros, das instituições, do seu trabalho, dos pais, da escola, dos parentes, vizinhos, amigos, em suma do Mundo todo. E o pior é quando não se aceitam a si mesmas mesmo diante do próprio autoconhecimento e traumáticas experiências.

E por que não aceitar o que se é? É simples, as pessoas que você ama e que te amam, não te aceitam, então como te aceitar? Como se alguns seres humanos não fossem criaturas de Deus ou resultado de uma evolução biológica, mas apenas detestáveis e sujos adjetivos: sodomita, lésbica, aberração, sapatão, sapatona, sapas, fanchona, invertida, virago, paraíba, bitrem, e que além de serem consideradas como, pecadoras, anômalas e degeneradas a sua homossexualidade seria, além disso, como um distúrbio mental. As lésbicas ainda seriam estigmatizadas duplamente, pela lesbofobia e o machismo. E as mulheres negras, triplamente, pela lesbofobia, machismo e racismo. Sem contar, uma misoginia atávica patriarcal que as espreitam como um pesadelo constante, ou o que chamam terrivelmente de “estupro corretivo”. E assim as lésbicas ou bissexuais sempre foram condenadas a uma vida dupla e sem visibilidade ou então a uma existência underground em seus próprios cotidianos...as consequências disso, além do sofrimento, um profundo sofrimento, que prefiro nem descrever. Entretanto como disse uma amiga bissexual: “Que seria de nós, mulheres, sem nós mesmas.” Uma questão simples, mas talvez a mais complicada de todas: alguma mulher pode escolher ou anular um desejo que sente por outra mulher? Ou por uma mulher e/ou um homem como as bissexuais?

Simone de Beauvoir (1908-1986), que no seu livro, O segundo sexo (1949), logo no início do segundo volume: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” Ninguém nasce lésbica, torna-se lésbica? Ninguém nasce bissexual, torna-se bissexual?

 


O Segundo Sexo, um livro inquietante até hoje. Imagem: Divulgação

Neste livro, que já foi mais lido, suponho, tem um capítulo o 4 do volume 2, que não é o maior deles, intitulado, “A lésbica”, mas é seguramente o mais interessante desse interessante e importante livro de quase novecentas páginas. Infelizmente ela não tratou especificamente das bissexuais, e ao que parece pela sua biografia, ela era bissexual. Começa assim:

 

“De bom grado imaginamos a lésbica com um chapéu de feltro, de cabelos curtos e gravata; sua virilidade seria uma anomalia traduzindo um desequilíbrio hormonal. Nada mais errôneo do que essa confusão entre a invertida e a virago. Há muitas homossexuais entre as odaliscas, as cortesãs, entre as mulheres mais deliberadamente ´femininas`; inversamente, numerosas mulheres ´masculinas´ são heterossexuais. Sexólogos e psiquiatras confirmam o que sugere a observação corrente: em sua imensa maioria, as mulheres ´malditas´ são constituídas exatamente como as outras mulheres. Nenhum ´destino anatômico´ determina sua sexualidade.” [BEAUVOIR, p. 161]

 

Disso ela entendia, mulher de mil amantes de ambos os sexos. Inclusive aqui no Brasil. Mas essa é outra história. Ela assumiu?

 

Queria apenas citar, mais alguns trechos desse capítulo, “Em verdade, a lésbica não é nem uma mulher `falhada´ nem uma mulher ´superior`.” [p. 163] “O que é preciso explicar na invertida não é, portanto, o aspecto positivo de sua escolha, é sua face negativa: ela não se caracteriza por seu gosto pelas mulheres e sim pela exclusividade desse gosto.” [p. 164]   “A associação de duas mulheres, como a de um homem com uma mulher, apresenta numerosos aspectos diferentes; assenta no sentimento, no interesse ou no hábito; é conjugal ou romanesca; dá ensejo ao sadismo, ao masoquismo, à generosidade, à fidelidade, à devoção, ao capricho, ao egoísmo, à traição; há, entre as lésbicas, prostitutas, como também grandes amorosas.”

 

Enfim, “E se se invoca a natureza pode-se dizer que toda mulher é homossexual. A lésbica caracteriza-se, com efeito, pela recusa do macho e seu gosto pela carne feminina; mas toda adolescente receia a penetração, o domínio masculino, experimenta em relação ao homem certa repulsa; em compensação, o corpo feminino é para ela, como para o homem, um objeto de desejo.” 

[p. 164]

 

Entretanto, outros fantasmas ainda rondam todas estas questões, talvez mais profundas, digamos assim. O ser e o estar lésbico e bissexual neste mundo tão tenebroso com quem não se encaixa no modelo ocidental de ser humano perfeito e o seu correspondente feminino: homem, heterossexual, branco, burguês, católico, pater famílias...e muitos deles potencialmente misóginos.

 

Uma situação real: Há algum tempo estava em um bar - sempre um bar? -, com uns amigos e umas amigas, uma diversidade, tinha lésbica, bissexual e héteros. De repente, dentre tantos assuntos todos descontraídos e etílicos surgiu um assunto sério. Como esses que descontraidamente tenho escrito.

 

- A situação dos homossexuais melhorou?

 

- Nunca! Ainda mais com as perspectivas desse novo presidente ou da possibilidade dele ser eleito. [Quando ela pronunciou isso, aquele genocida ainda não tinha sido eleito, mas se confirmou como mais racista e LGBTfóbico de todos os nossos presidentes]

 

- Mas as conquistas estão aí, tanto para os negros como para os LGBT's.

 

- Será?

 

Aí, uma lésbica, branca, jovem, saudável e linda, com formação em curso superior, musicista profissional, que havia pronunciado o “nunca”, melancolicamente e profundamente exclamou:

 

- Eu não tenho coragem de sair pelas ruas de Patos de Minas de mãos dadas com outra mulher. Eu tenho medo. Então o que mudou?

 

Acho que foi isso que ela disse. Todos fizeram um silêncio. Que não sei quanto tempo durou. E pensei várias vezes sobre isso. Como pode alguém decidir o que o outro quer viver? Com quem viver? E precisa viver. É vital viver. Não sei.

 

Gostaria de concluir com uma vigorosa escrita de uma lésbica, poeta, ensaísta e professora estadunidense, com um fragmento de um texto escrito em 1980:

 

“A existência lésbica inclui tanto a ruptura de um tabu quanto a rejeição de um modo compulsório de vida. É também um ataque direto e indireto ao direito masculino de ter acesso às mulheres. Mas é muito mais do que isso, de fato, embora possamos começar a percebê-la como uma forma de exprimir uma recusa ao patriarcado, um ato de resistência. Ela inclui, certamente, isolamento, ódio pessoal, colapso, alcoolismo, suicídio e violência entre mulheres. Ao nosso próprio risco, romantizamos o que significa amar e agir contra a corrente sob a ameaça de pesadas penalidades. E a existência lésbica tem sido vivida (diferentemente, digamos, da existência judaica e católica) sem acesso a qualquer conhecimento de tradição, continuidade e esteio social. A destruição de registros, memória e cartas documentando as realidades da existência lésbica deve ser tomada seriamente como um meio de manter a heterossexualidade compulsória para as mulheres, afinal o que tem sido colocado à parte de nosso conhecimento é a alegria, a sensualidade, a coragem e a comunidade, bem como a culpa, a autonegação e a dor.” Adrienne Rich [1929-2012], In: Heterossexualidade compulsória e existência lésbica. [RICH, 2007, P.36]

 

*Este texto é um excerto modificado e atualizado de: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/08/dia-do-orgulho-lesbico.html. E https://www.jornaldepatos.com.br/2023/08/dia-da-visibilidade-lesbica-e-bissexual.html. Publicado também em:


POST SCRIPTUM

 

A INVISIBILIDADE DE ANNA FREUD



Dorothy e Anna Freud

https://hayunalesbianaenmisopa.com/2016/08/10/amigas-sin-derecho-a-roce-edicion-vintage-anna-freud-y-dorothy-burlingham/  -divulgação

Anna Freud [1895-1982], vienense, filha de Sigmund Freud e Martha Bernays, foi a última filha dos seis filhos do casal. Foi também a única a seguir a profissão do pai e como psicanalista também publicou importantes obras sobre o assunto, além de ter sido assistente de seu pai até a sua morte em 1939.

Mas paradoxalmente, Anna Freud, filha do pai que abriu a caixa de Pandora da sexualidade, não “saiu do armário”, e sua existência lésbica permaneceu invisível por toda sua vida. Mesmo o pai tendo pesquisado e publicado várias obras sobre lésbicas, homossexuais e bissexuais ela e sua companheira, a novaiorquina Dorothy Burlingham [1891-1979], também psicanalista, apesar de morarem juntas durante 54 anos, jamais assumiram publicamente e explicitamente o seu relacionamento amoroso, sendo apenas “amigas”, ou seja de 1925 quando se conheceram até 1979, ano da morte de Dorothy. Inclusive, ante de ir morar com a sua companheira, Ernest Jones, um dos mais célebres biógrafos de Freud, cortejou-a em várias ocasiões, e obviamente não foi bem-sucedido.

Dorothy tinha sido casada por 7 anos e tendo 4 filhos, separou-se de seu marido em 1925 e foi morar com Anna Freud em Viena, juntamente com os filhos. Neste ano ela havia levado um de seus filhos para se tratar com Anna em Viena e aí iniciaram esse relacionamento para sempre.

Antes da  eclosão da Segunda Guerra Mundial todos se mudaram para Londres em 1938, inclusive Sigmund Freud que morreria lá no ano seguinte.

E se hoje, em pleno século XXI, a visibilidade lésbica e bissexual, e claro, homossexual em geral, ainda continua um tabu, continua reprimida, para apenas usar esse eufemismo, e não à toa e todos sabemos por que, imaginem no início do século XX. Aventaram, que sua invisibilidade era por causa do pai, entretanto, o pai morre em 1939 e mesmo assim ela, elas, continuaram invisíveis...

Entretanto, Anna e Dorothy continuaram invisíveis, mesmo Sigmund Freud, tendo escrito em uma carta em 1935, e em vários outros escritos, que, a homossexualidade:

Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito.”

De acordo com a psicanalista, Ligia Maria Durski:

“É fácil supor, ao ler algumas cartas de Anna Freud em sua biografia que por toda uma vida essas duas mulheres precisaram fingir, escamotear, esconder, distorcer, negar e mentir sobre  a  qualidade  do  vínculo  amoroso  que  as  unia - pairando  no  ar,  inclusive,  se  ambas vivenciaram um amor aparentemente represado ou se conseguiram por tantos anos e morando no mesmo teto “sublimar” o desejo sexual ali pungente. Duas psicanalistas que certamente sabiam sobre as consequências destrutivas da moral sexual vigente sobre suas vidas pessoais e profissionais caso tal relacionamento fosse realizado e/ou revelado. Sair do armário nunca foi possível pra Anna e Dorothy. - Infelizmente, a história não mudou muito em termos de uma visibilidade sapatão no que se refere à psicanálise. Ainda é preciso fingir, escamotear, achar irrelevante, distorcer, negar e mentir nos ambientes psicanalíticos quando se é uma psicanalista lésbica, um(a) psicanalista trans, um psicanalista homossexual, etc.”

E para a mesma, Ligia Maria Durski:

 Retomando, pois, o exemplo de Anna e Dorothy, independente da factualidade de uma relação érotico-genital, por assim dizer, a potência de trazer à tona essa história e de lutar contra seu apagamento se encaixa na proposta de Adrienne Rich com relação ao seu conceito de ‘continuum  lésbico’.  Este  conceito  propõe  que  pensemos  as  relações  entre  mulheres  e  a potência  social  e  política  dessas  vinculações  na  extensão  que  vai  desde  intensidades  mais primárias até o compartilhamento de uma vida interior mais rica. Para a autora: ‘a existência lésbica inclui tanto a ruptura de um tabu quanto a rejeição de um modo compulsório de vida. É também um ataque direto e indireto ao direito masculino de acesso às mulheres. Mas é muito mais do que isso, de fato, embora possamos começar a percebê-la como uma forma de exprimir a recusa ao patriarcado, é um ato de resistência’”.

Entretanto, existe um outro detalhe, outro de tantos dessa existência tão rica e complexa que foi a de Anna Freud e de tantas outras, que conhecemos, e segundo a também psicanalista e francesa, Élisabeth Roudinesco, Anna era homossexual e paradoxal:

Anna era homossexual. Se ela praticou ou não a sua homossexualidade, ninguém sabe. Seja como for, ela viveu com uma mulher a vida inteira, Dorothy Burlingham. Freud aceita isso a partir dos anos 1920. Ele se dá conta de que sua filha não quer saber de homem, mas tem o desejo de educar crianças. [...]

Claro. Agora, como se pode pensar que Freud imaginaria o casamento de homossexuais e a educação de crianças por eles? A única coisa que nós podemos dizer é que, quando a filha de Freud quis viver com uma mulher e educar crianças, ele não se opôs. Disse que seria uma família a mais. Há feministas um pouco excitadas que consideram que Anna Freud era uma feminista queer que antecipava o casamento homossexual. Trata-se de uma inverdade. Anna Freud foi homófoba. Apesar de ser homossexual, considerava que os homossexuais não deviam ser analistas. Que era preciso corrigir isso. Anna Freud era depressiva, não aceitava a própria homossexualidade. [...]

[Anna Freud era paradoxal?] Sim, e é provável que a homossexualidade dela tenha se mantido escondida na relação com a companheira, que a relação fosse sobretudo amistosa, e não sexual. Nunca saberemos. Anna Freud era uma mulher do seu tempo. Freud era mais avançado do que sua filha. Foi pela despenalização e era favorável à prática da psicanálise pelos homossexuais.”

 

 

FONTES:

 

Luís Olímpio Ferraz Melo. Anna Freud -

https://www.facebook.com/SempreFreud/posts/anna-freud-foi-lou-andreas-salom%C3%A9-amiga-da-fam%C3%ADlia-freud-que-se-tornou-confident/907869229235113/?locale=pt_BR;  

Ligia Maria Durski. Ser uma psicanalistas lésbica -https://revistas.unilab.edu.br/index.php/rebeh/article/view/391/253; 

Mariana Nicodemus - Carta em que Freud trata sobre 'reversão da homossexualidade' é compartilhada nas redes sociais -

https://oglobo.globo.com/brasil/carta-em-que-freud-trata-sobre-reversao-da-homossexualidade-compartilhada-nas-redes-sociais-21845301

Entrevista com Elisabeth Roudinesco -

https://www.scielo.br/j/rlpf/a/pMRz8QncKHRq7f5YW6mzB7
R/

Anna Freud -

http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Anna_Freud

 

 

DESAFIOS E CONQUISTAS DOS LGBTQIA+*

 

A PARTIR DOS ANOS 1950

Surgem as divas trans que se tornam grandes estrelas no Brasil e na Europa, como Rogéria, Jane di Castro, Eloína e Fujika, entre outras

 

1969

LGBTs de Nova York colocam fim às agressões que sofriam em batidas policiais realizadas num bar da cidade, o Stonewall Inn. O grupo resistiu por três dias em 1969, numa época em que se relacionar com pessoas do mesmo sexo era ilegal em todos os estados americanos.

O movimento estimulou uma marcha sem volta de LGBTs por mais igualdade de direitos em várias partes do mundo e ficou conhecido como a revolta de Stonewall [ver Stonewall: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/06/stonewall-28-de-junho-de-1969-o-orgulho.html]

 

1978

Início do movimento pelos direitos LGBT no Brasil. É fundado, no Rio de Janeiro, o jornal Lampião na Esquina, voltado para as questões da comunidade. Em São Paulo, surge o Somos

 

1979-1980

Organização dos Grupos LF-Lésbico Feminista [1979], e GALF-Grupo de Ação Lésbica Feminista [1979-1989]

 

1982

Ocorre a famosa passeata contra o delegado José Wilson Richetti, que realizava batidas policiais no centro de São Paulo contra travestis, gays e prostitutas sobre o pretexto de moralização social

 

1983

DIA NACIONAL DO ORGULHO LÉSBICO. Em 19 de agosto de 1983, um protesto realizado por lésbicas e apoiado por grupos feministas pôs fim às discriminações sofridas no Ferro’s Bar, centro de SP. O ato ficou conhecido como o "Stonewall brasileiro" [VER: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/08/dia-do-orgulho-lesbico.html]

 

Anos 80 e 90

Anos de pânico: o HIV chega ao Brasil e faz estrago conhecido como “peste gay”. Na Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo é organizado o primeiro núcleo de luta anti-Aids. Morrem Darcy Penteado, Caio Fernando Abreu e Cazuza por complicações da doença

 

1985

O Conselho Federal de Medicina retira a homossexualidade de sua lista de doenças

 

1990

OMS (Organização Mundial da Saúde) retira a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais

 

1992

No Piauí, Kátia Tapeti é eleita a primeira vereadora trans na história da política brasileira

 

1995

As primeiras Paradas do Orgulho LGBT são realizadas em Curitiba e no Rio

 

1996

DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE LÉSBICA – instituído em 29 de agosto durante o 1o Seminário Nacional de Lésbica-SENALE. Depois, a partir de 2014, no VIII SENALE, ocorreu a mudança para a sigla, SENALESBI- Seminário Nacional de Lésbica Mulheres Bissexuais. E daí, DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE LÉSBICA BISSEXUAL.

 

1997

A cidade de São Paulo sedia sua primeira Parada LGBT. Em 2006, a passeata paulistana entra para o Guinness Book como o maior evento do gênero

 

2001

O governo de São Paulo promulga a lei 10.948 que penaliza práticas discriminatórias em razão da orientação sexual e identidade de gênero

 

2002

O processo de redesignação sexual, a chamada cirurgia de “mudança de sexo” do fenótipo masculino para o feminino é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina. Em 2008, passa a ser oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde)

 

2011

STF (Supremo Tribunal Federal) reconhece a união homoafetiva, um marco na luta pelos direitos LGBT

 

2018

STF decide que transexuais e transgêneros podem mudar seus nomes de registro civil sem necessidade de cirurgia

 

2019

STF enquadra a homofobia e a transfobia na lei de crimes de racismo até que o Congresso crie legislação própria sobre o tema

 

2020

STF declara inconstitucionais as normas que proíbem gays de doar sangue

 

Fonte: Livro Devassos no Paraíso - João Silvério Trevisan. Editora OBJETIVA (APUD- *Dhiego Maia - Folha de S. Paulo, 16.05.2020 - https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/ha-30-anos-oms-tirou-homossexualidade-de-catalogo-de-disturbios.shtml)

 

LIVROS PARA SABER UM POUCO MAIS:

 

ARC, Stéphanie. As lésbicas; mitos e verdades. São Paulo: GLS, 2009.

 

BEAUVOIR, Simone de. A lésbica. In: O segundo sexo. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2016. P. 161-182. V. 2.

 

BECHDEL, Alison. Fun Home; uma tragicomédia em família. São Paulo: Todavia, 2018.

 

BENTO, Berenice. O que é transexualidade. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008. [KINDLE]

 

BIMBI, Bruno. O fim do armário; lésbicas, gays, bissexuais e trans no século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2017.

 

BUTLER, Judith. Problemas de gênero; feminismo e subversão da identidade. 15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

 

CAPRIO, Frank S. Homossexualidade feminina. São Paulo: IBRASA, 1960.

 

CARDOSO, Fernando Luiz. O que é Orientação sexual. São Paulo: Brasiliense, 1996.

 

CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade : a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

 

CLARKE, Cheriyl. Lesbianismo: um acto de resistencia. In: MORAGA, Cherrie; CASTILLO, Ana. Esta puente, mi espalda: voces de las tercermundistas em los Estados Unidos. São Francisco: ISM press, 1988. P. 98-107. [PDF]

 

COLLING, Leandro (Org.) Stonewall 40 + o que no Brasil? Salvador: EDUFBA, 2011.

 

COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro. São Paulo: Boitempo, 2018.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016

 

FALQUET, Jules-France. Lesbianismo. In: HIRATA, Helena et alii. Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: UNESP, 2009.

 

FATUMMA, Dedê. Lesbiandade. São Paulo: Editora Jandaíra, 2023.

 

FERNANDES, Marisa. Ações Lésbicas. In: GREEN, James N. et. al. História do movimento LGBT no Brasil. São Paulo: Alameda, 2018.

 

FREUD, Sigmund. A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher. In: Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1920-1922). Rio de Janeiro: Imago, 1996. V. XVIII. P. 159-183.

 

FREUD, Sigmund. Cartas sobre a bissexualidade (1898-1904). In: Amor, sexualidade, feminilidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. P. 37-79.

 

FREUD, Sigmund. Fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade (1908). In: Gradiva de Jensen e outros trabalhos (1906-1908). Rio de Janeiro: Imago, 1996. V. IX. P. 145-154.

 

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre teoria da sexualidade: I – As aberrações sexuais –a inversão; a bissexualidade (1905). In: Fragmento da análise de um caso de histeria, Três ensaios sobre teoria da sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1996. V. VII. P.122-175.

 

HOOKS, Bell. E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019. [1981]

 

HURWOOD, Bernhard J. As bissexuais. 3.ed. São Paulo: Nova Época Editorial, sd.

 

JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida (Org.) Manifiestos gays, lesbianos y queer; testimonios de uma lucha (1969-1994). Barcelona: Icaria, 2009 [PDF]

 

LAMBLIN, Bianca. Memórias de uma moça malcomportada; A verdade sobre o triângulo amoroso entre a autora, Sartre e Simone de Beauvoir. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.

 

LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo; corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

 

LEMOS, Ana Carla da Silva. Rachas ou agregações? Uma análise sobre os movimentos de lésbicas e movimentos feministas no 8º SENALE - Seminário Nacional de Lésbicas. In: 18° Encontro Nacional da Rede Feminista Norte e Nordeste - REDOR: Perspectivas feministas de gênero: desafios no campo da militância e das práticas científicas, 2014. Recife - PE. Rachas ou agregações? Uma análise sobre os movimentos de lésbicas e movimentos feministas no 8º SENALE - Seminário Nacional de Lésbicas. Recife - PE: EDUFRPE, 2014. v. 01. P. 2330-2337.

 

LERNER, Gerda. A criação do patriarcado; história da opressão das mulheres pelos homens. São Paulo: Editora Cultrix, 2019.

 

LESSA, Patrícia. O feminismo-lesbiano em Monique Wittig. In: Revista Ártemis. V. 7, dez. 2007, p. 93-100. LORDE, Audre. A unicórnia preta. Belo Horizonte: Relicário, 2020.

 

LORDE, Audre. Entre nós mesmas; poemas reunidos. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

 

LORDE, Audre. Irmã outsider; ensaios e conferências. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

 

LORDE, Audre. Los usos de lo erótico: la erótica como poder. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida (Org.) Manifiestos gays, lesbianos y queer; testimonios de uma lucha (1969-1994). Barcelona: Icaria, 2009, p. 207-8 [pdf]

 

LORDE, Audre. Sou sua irmã; escritos reunidos e inéditos. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

 

LOURO, Guacira. Um corpo estranho: ensaio sobre sexualidade e teoria queer. 3. ed. Belo Horizonte: autêntica, 2022.

MARITANO, Ornella. Feminismo lésbico/Lesbofeminismos. In: GALETTI, Camila; RIVETTI, Jéssica Melo (Orgs.) Feminismos em movimento. Belo Horizonte: Editora Luas, 2023. p. 158-167.


MEINERS, Nádia Elisa. Entre mulheres. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

 

MILLETT, Kate. Política sexual. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1974. (1969) [xerox]

 

MOIRA, Amora; NERY, João W. Vidas trans: a coragem de existir. Bauru: astral cultural, 2018.

 

MONEY, John; TUCKER, Patrícia. Os papéis sexuais. São Paulo: Brasiliense, 1981

 

MONNIER, Adrienne. Rua do Odéon. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

 

MORAGA, Cherrie; CASTILLO, Ana. Esta puente, mi espalda: voces de las tercermundistas em los Estados Unidos. São Francisco: ISM press, 1988. [PDF]

 

MOTT, Luiz. O lesbianismo no Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.

 

NASCIMENTO, Beatriz. O negro visto por ele mesmo. São Paulo: Ubu Editoria, 2022.

 

NASCIMENTO, Letícia. Transfeminismo. São Paulo: Jandaíra, 2021.

 

NAVARRO-SWAIN, Tania. O que é lesbianismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.

 

NELSON de, Maggie. Argonautas. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

 

OATES, Joyce Carol. A fêmea da espécie. Rio de Janeiro: Record, 2008.

 

OLIVEIRA, Carmen L. Flores raras e banalíssimas; a história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

 

OLIVEIRA, José Eduardo de. Audre Lorde A Irmã Estrangeira. In: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/06/audre-lorde-irma-estrangeira.html.v15 de junho de 2020. 

 

OLIVEIRA, José Eduardo de. Dia do Orgulho Lésbico. In: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/08/dia-do-orgulho-lesbico.html. Agosto de 2020.

 

OLIVEIRA, José Eduardo de. Dia da visibilidade lésbica e bissexual. In: https://www.jornaldepatos.com.br/2023/08/dia-da-visibilidade-lesbica-e-bissexual.html

 

OLIVEIRA, José Eduardo de. Stonewall, 28 de junho de 1969: O Orgulho Gay 51 anos depois. In: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/06/stonewall-28-de-junho-de-1969-o-orgulho.html. 28 de junho de 2020.

 

OS 40 ANOS DO MOVIMENTO LGBT no Brasil; o desejo de transformação e uma revolução política por fazer. In: REVISTA CULT 235.

 

PEREL, Esther. Sexo no cativeiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.

 

PIGNATARI, Décio. (Org.) 31 poetas, 214 poemas; do Rigveda e Safo a Apollinaire. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

 

PRECIADO, Paul B. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2004.

 

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? São Paulo: Jandaíra, 2020.

 

RICH, Adrienne. Antologia poética. Madrid: Visor Libros, 2003.

 

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TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil e outros ensaios. São Paulo: Editora Alameda, 2017.

 

TORRÃO FILHO, Amilcar. Tríbades galantes, fanchonos militantes; homossexuais que fizeram história. São Paulo: Summus, 2000.

 

TREVISAN, José Silvério. Devassos no Paraíso; a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. 4. ed. Rio de Janeiro: Objetiva

 

VASALLO, Brigitte. O desafio poliamoroso. São Paulo: Elefante, 2022.

 

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WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto Alegre: L&PM, 2018.

 

WOOLF, Virginia. Um quarto só para si. Lisboa: Relógio D´Água Editores, 2005

 

APENAS ALGUNS FILMES, CUJA LISTA É IMENSA

A Jovem Rainha [The Girl King], Direção Mika Kaurismäki, 2015.

Ammonite [Ammonite], Direção Francis Lee, 2020.

A Última Sessão de Freud (Freud’s Last Session / 2024 – Reino Unido) – Direção: Matthew Brown - [HBO-MAX].

As Revoltas de Stonewall [Stonewall uprising] de Kate Davis (2010) – [Youtube]
Colette [Colette], Direção Wash Westmoreland, 2018.

Desobediência [Disobedience], Direção Sebastian Lelio, 2017 [HBO-MAX].
Duas Rainhas [Mary Queen of Scots] Direção Josie Rourke, 2018.
Duck Butter [Duck Butter] Direção Miguel Arteta, 2018- [NETFLIX].
Feministas: o que elas estavam pensando?
[Feminists: What Were They Thinking?], Direção Mary Dore, 2018 [NETFLIX].

Flores raras, Direção Bruno Barreto, 2013.

Marielle – o documentário.

O Mau Exemplo de Cameron Post [The Miseducation of Cameron Post], Direção Desiree Akhavan, 2019.

Orlando [Orlando] Direção Sally Potter, 1992.

Procura-se Amy [Chasing Amy], Direção Kevin Smith, 1997.

Retrato de uma jovem em chamas [Portrait de la Jeune Fille en Feu], Direção Céline Sciamma, 2019.

Um belo verão [La Belle Saison], Direção Catherine Corsini, 2015

Violette [Violette.], Direção Martin Provost, 2013.

 

José Eduardo de Oliveira é licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.

 

Este texto é uma versão revista e atualizada de:

https://www.jornaldepatos.com.br/2023/08/dia-da-visibilidade-lesbica-e-bissexual.html

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