quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Diagnóstico da sequela

 

Diagnóstico da sequela

José Eduardo De Oliveira Jornal De Patos Quarta-Feira, Setembro 14, 2022

Texto e autorretrato por José Eduardo de Oliveira

 

Para minha mãe, que tem 92 anos e muito mais honra, humor e esperanças que todos os filhos das putas que recebem os votos que compraram e de alguns que ainda votam e acreditam neles.

 

Já não eram boas as relações familiares desde:

Até que a morte os ignore.

Mas vieram os filhos...

A perpetuação da espécie

Quase como um diagnóstico.

 

Junto com o sangue

Veio o atavismo

 

Mas...

Adoro-os, mas, eles são covardes

Mas, olha só, de novo, não infectam ninguém,

Não enquanto estão olhando.

 

Mas começo a perder o sentido do sentido

Ou dos sentidos.

 

A primeira sensação é que entre

Os avisos de não-velórios

As certezas que nunca mais

Olharemos aqueles olhos

E nem sentiremos o calor

Daquelas mãos

Daquelas mãos

- mãos que falavam...

Mãos memórias.

 

Hoje mãos medo, não toque as mãos, nem das mães...

 

Mas vidas não existem mais

 

E Castro Alves, clamou:

Onde estás que não respondes?

[jamais responderá]

 

E lá fora

Um animal que se acha macho alfa

Devora não só seus filhotes

E a matilha toda

[mas defeca antes em tudo]

Mas só descobrirá que está em decomposição

Quando um dos lobos de sua alcateia faminta

Vomitar seus ossos

Podres...

 

Diagnóstico:

O vírus afeta a memória e o amor.

 

Antes da receita inútil, uma pergunta:

Tem remédio para essas duas coisas?

A memória e o amor? [o ódio já existia, não é sequela e nem efeito colateral é ancestral]

:

Cloroquina...voto impresso... viagra... treizoitão... bíblias virgens...óbolos eleitorais..., na verdade, nem o voto...

 

A primeira, a memória, realmente foi afetada

Antes da pandemia.

 

Mas agora, não febril, mas insano, que é

Uma espécie de febre mais grave

Percebi que perdia a memória:

Alguns sobreviventes diante de mim

Simulam que são meus filhos, minha neta e 

Minha mulher.

[os amigos não contam, exceto se for num bar, e de máscaras e chapado]

 

Não me lembro deles.

Eles se lembram de mim

Como eu era?

 

Também a fala, a audição, na verdade, a comunicação

Foi comprometida, como um pulmão 99%

 

Não, entendo o que falam e eles não me 

Entendem...

 

Mas os seres humanos como as baratas

Estão sobrevivendo, piores do que eram, 

Por suposto.

[como os políticos e que são os mesmos antes da pandemia, só que mais cruéis e podres, e usam deuses como se fossem papéis higiênicos usados mais de uma vez ou então absorventes baratos...]

 

Amém

Aos outros e outras resta:

Revertere ad locum tuum

[retorna ao teu lugar - no cemitério]

 

Mas o único diagnóstico que já vem com receita é 

:

O último que sair, acenda a luz, que ainda há tempo...

 

 

José Eduardo de Oliveira é licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto

 

            PUBLICADO NO JORNAL DE PATOS 14.09.2022

https://www.jornaldepatos.com.br/2022/09/diagnostico-da-sequela.html

 

 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O 7 de setembro das ratazanas podres

 

O 7 de setembro das ratazanas podres

No Palácio do Crepúsculo das ratazanas mortas e fétidas/

Comemoram 200 anos de nossa independência.

 

Com cavalos/tanques/máquinas agrícolas/caminhões/corruptos de todas as espécies/cuidadores de rebanhos com Bíblias maculadas debaixo de sujos sovacos/portadores de armas de grosso calibre/curandeiros/fichas sujas/alguns comprados com o próprio dinheiro/de cujus diversos/os ludibriados por vontade própria e outros canalhas, machos e fêmeas, ratazanas e ratões com as pançonas cheias de dinheiro público ou de crentes famintos...amém.

 

Nos palácios governamentais das ratazanas mortas e fétidas/

Fazem a mesma coisa: o mestre mandou.

 

Nas prefeituras municipais, inclusive dos grotões, as ratazanas mortas e fétidas/

: Batem continências.

 

Nas câmaras municipais, inclusive das vilas submissas, as ratazanas mortas e fétidas/

: aplaudem.

 

[Enquanto isso, as outras ratazanas podres e fétidas das ruas esperam a noite...]

 

  200 anos um príncipe ratazana morta bradou às margens flácidas de sua moral e de sua ganância ancestral: Independência ou dependência?

Amanhecemos no dia 8 dependentes das mesmas ratazanas mortas desde 1500.

 

O auriverde pendão, usado hoje como auriverde ameaça

Símbolo hoje conspurcado e nauseabundo de ignomínia.

Tremula hoje numa baioneta de baixa patente ameaçador, mas roto, triste e sujo...e fétido.

 

E se estamos independentes, porque ainda ouvimos:

O som dos grilhões nas senzalas?

O som de agonia de índios?

O som de choro de crianças chorando nas favelas, becos e vielas?

/famintas...enfermas...febris...iletradas...

O som de mulheres aterrorizadas e ameaçadas?

O som da morte nos corredores do SUS?

[e a busca de “o que comer” em lixões?]  

E os impunes punindo inocentes?

Até quando?

 

Me lembrei do poeta que ousou “falar das flores”:

 

“Pelos campos há fome em grandes plantações

[...]

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

[...]

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
[...]

Somos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”


Enquanto isso:

As ratazanas mortas e fétidas não dormem/

Conspiram

E corroem tudo.

Corroem o patrimônio nacional.

O tesouro nacional.

A vergonha nacional.

A Bandeira Nacional.

A Pátria nacional.

A família nacional.

A religião nacional.

O território nacional.

A Constituição Nacional.

[nessa corroem e depois defecam nela, fétidos excrementos de ratazanas mortas e fétidas!]

 

As ratazanas mortas e fétidas defecam/

Ódio.

Caos.

Mentiras.

Medo.

Ameaças.

Esmolas.

 

No Palácio do Crepúsculo das ratazanas mortas e fétidas/

Comemoram 200 anos de nossa independência.

 

E em nome de Deus, Pátria, Família e da Democracia,

Roem e corroem vorazmente, como se fosse frango com farofa  no meio da rua, Deus, a Pátria, a Família e a Democracia...

 

 

PUBLICADO NO Jornal de Patos, 5 de setembro de 2022

 

https://www.jornaldepatos.com.br/2022/09/o-7-de-setembro-das-ratazanas-podres.html